Sindicato dos Médicos diz que atendimentos que não se enquadram como urgência ou emergência prejudicam quem precisa de
consulta em CMUM
Os Centros Municipais de Urgências Médicas de Curitiba (CMUM) foram criados para atender casos de emergência, mas a maioria
dos pacientes que são atendidos nas unidades 24 horas poderia ser recebida pelos postos de saúde. A afirmação é de Cláudia
Paola Aguilar, diretora do Sindicato dos Médicos no Estado do Paraná (Simepar).
Segundo alguns médicos que atendem em CMUMs e que não quiseram revelar seus nomes, os centros estão sobrecarregados de
pacientes que deveriam ser atendidos nas unidades básicas. Segundo eles, os cidadãos têm preferido aguardar horas nos centros
a terem de esperar meses por uma consulta a partir do posto de saúde, mesmo guiados por motivações simples como conseguir
um atestado ou renovar a receita de um medicamento.
Para fazer a triagem dos pacientes que chegam aos CMUMs, a prefeitura instalou o Protocolo de Manchester, que identifica
aqueles que têm prioridade por meio de uma pulseira colorida. Segundo a diretora do Simepar, Cláudia Aguilar, uma cor que
não existe em outros países onde o protocolo funciona foi instituída em Curitiba: a cor branca. "Os pacientes identificados
com essa cor são de consultas eletivas, como renovação de receitas, atendimentos que deveriam ser realizados em postos de
saúde", diz ela.
Segundo os médicos, alguns pacientes buscam a emergência por antecipação. "O paciente perde a esperança de ser atendido
no posto de saúde e nas outras vezes decide ir direto para o centro de emergência", diz Francisco. "Dos pacientes que recebem
a pulseira branca, a maioria quer atestado ou trocar receita, algum remédio para dor de cabeça", diz o médico do CMUM do Pinheirinho,
José*.
Atendimento
Com esse incremento de pacientes, o número de atendimentos por médico aumenta e os pacientes que necessitam realmente
de cuidados emergenciais acabam não recebendo a atenção necessária. "Quando aparece uma urgência de verdade, o médico está
de certo modo abatido, até porque há uma solicitação de que a gente atenda 24 pacientes por turno", diz o médico Francisco*,
que trabalha em um centro de urgência. Nesta média, cada consulta levaria 10 minutos. "Não dá para atender como linha de produção.
Cada consulta causa um desgaste físico e emocional e requer certo tempo para que se consiga atender proveitosamente o próximo",
diz.
O também médico Gabriel*, que trabalha no Centro de Urgência do Cajuru, afirma que há cobrança para que os médicos atendam
mais pessoas e que eles sofrem represálias. "Para atender essa demanda, aceleramos a consulta", diz. Segundo Gabriel, um dos
problemas é que faltam médicos, já que o salário não é atrativo.
Outro Lado
Para o diretor técnico da urgência e emergência da Secretaria de Saúde de Curitiba, Eduardo Mischiatti, os CMUMs estão
estruturados para atender até 450 pacientes por dia e a demanda atual fica nesta faixa. "O corpo clínico está direcionado
para atender esse volume, então não há comprometimento da atenção."
Mischiatti também destaca que os CMUMs podem atender tanto os moradores de Curitiba quando os da região metropolitana,
o que não acontece nos postos de saúde. "Os pacientes de Curitiba podem agendar consultas no postos de saúde, mas na região
metropolitana são muitos os locais sem atendimento básico", afirma.
Pacientes recorrem sempre aos CMUMs
A vigilante Querin Mendes procurou diversas vezes tanto os postos de saúde quanto os Centros Municipais de Urgências Médicas
de Curitiba (CMUM) por causa das enxaquecas e convulsões que sofre. Recentemente, ela procurou ajuda mais uma vez. "Apesar
de ter médicos no posto, disseram que não podiam atender, que não era importante", conta. A vigilante procurou então o CMUM
de sua região, onde aguardava para ser atendida.
Querin diz que aquela não era a primeira vez na semana em que buscava o centro. "Domingo de madrugada tive que passar
aqui [no CMUM] direto do trabalho, fui atendida rapidamente, na salinha dos remédios. O médico me indicou duas injeções, mas
não adiantou", diz. Querin diz que, apesar de recorrer bastante aos CMUMs, preferiria ser consultada no posto de saúde, já
que lá ela consegue mais exames e um encaminhamento para especialista.
Infecção na garganta
Núbia Rosa Dallagnol procurou o CMUM por causa de uma infecção na garganta. "Nas segundas-feiras os postos estão sempre
cheios, as consultas que podem ser agendadas se esgotam muito rápido", diz. Entretanto, ela considera o atendimento nos postos
de saúde muito bons. "É tudo bem elaborado e como é conectado com os outros postos, o médico sabe quais remédios eu estou
tomando", diz.
Outros pacientes reclamam que às vezes o atendimento nos centros - além de não ser muito bom - é bastante demorado. "Um
dia cheguei às 11h30 com meu irmão e só conseguimos atendimento às 16 horas", diz Amanda dos Santos. A jovem também reclamou
que muitas vezes os médicos não conseguem descobrir o problema do paciente. "Tem que voltar, passando mal, e ainda assim não
dão uma solução", afirma.
*Nomes fictícios
Fonte:
Gazeta do Povo
Publicado em 13/09/2011