Os municípios do interior do Paraná vão precisar tomar decisões estratégicas se quiserem atrair médicos para trabalhar na
rede pública de saúde local. O Programa de Valorização de Profissionais da Atenção Básica (Provab), do governo federal, exigia
uma contrapartida dos municípios em gastos com remuneração e auxílio-moradia. Como teria de haver o desembolso de recursos
municipais, das 22 cidades que fizeram a seleção de médicos, apenas em São Miguel do Iguaçu houve a contratação de um profissional.
É fato reconhecido que cidades de pequeno e médio porte padecem de escassez de recursos, por ficarem com a menor parte
dos tributos arrecadados. Mas isso não exime os municípios de colocarem a saúde pública como prioridade. Na hora de estabelecer
uma ordem de relevância, gestores públicos devem pensar seriamente em reduzir gastos com estruturas administrativas, em especial
a parcela orçamentária de câmaras municipais.
Em muitos casos, em vez de ampliar o número de vereadores, as câmaras poderiam renunciar aos valores que teriam por direito,
e que eventualmente gastariam para manter novas cadeiras legislativas. Parte do orçamento das câmaras poderia ser usado pelas
prefeituras para ampliar os recursos disponíveis para a saúde. Entretanto, o cenário é outro. Neste ano, pelo menos 38 cidades
serão responsáveis pelo aumento de 134 cadeiras legislativas em todo o estado. Há uma ânsia para aumentar o número de parlamentares,
sem que isso resulte em ganhos para a participação democrática.
Não é só dinheiro em abundância, entretanto, que vai levar médicos para o interior. É necessário que os gestores criem
atrativos suficientes para que profissionais venham a considerar a possibilidade de morar nessas cidades. E isso se consegue
dando boas condições de trabalho, proporcionando desenvolvimento pessoal e tornando o município um lugar de qualidade para
se morar.
Artigo escrito por Rhodrigo Deda, editor-executivo de Vida Pública, publicado na reportagem "Nem com apoio federal municípios atraem médicos de atenção básica", no jornal Gazeta do Povo, em 14/06/2012.