Formada pela UFPR em 1994, a Dra. Laura Macedo Mercer Rosa (CRM-PR 14.529) perseverou em seu objetivo de atuar fora do país;
há 20 anos, ela reside e trabalha nos EUA
Desde a primeira vez em que passou pelo setor de Pediatria do Hospital de Clínicas da Universidade Federal
do Paraná (UFPR), ainda na faculdade, a cardiologista pediátrica Laura Macedo Mercer Rosa (CRM-PR 14.529) percebeu
que aquela seria sua área de atuação na Medicina: “Gosto muito do desafio de entender o que se
passa com a criança sem ela saber como explicar.”
clique para ampliarDra. Laura e a família; ela mudou-se para os EUA no
ano 2000 (Foto: Arquivo pessoal)
Após graduar-se, em 1994, ela permaneceu no HC de
Curitiba para complementar sua formação com a residência em Pediatria. Nesse período, teve a oportunidade
de conviver com um grande mentor na área: o professor Izrail Cat, pediatra intensivista nascido na Romênia e
um dos fundadores do Hospital de Clínicas da UFPR e da UTI pediátrica da instituição.
Professor de várias gerações de pediatras no Brasil, o professor Cat, falecido em 2014, despertou
na jovem médica o desejo de trilhar uma carreira no exterior. “O Dr. Izrail tinha feito um estágio no
Hospital for Sick Children em Toronto, no Canadá, e era meu sonho ir para lá também”, ela lembra.
Em 1997, após terminar a residência, a pediatra mudou-se para São Paulo para um treinamento em Cardiologia
Pediátrica no Instituto do Coração (InCor).
Mudança de país
Alguns anos depois, em maio de 2000, a oportunidade de mudar de país surgiu para a médica curitibana.
Seu marido, Luis Celso Rosa, havia sido convidado a trabalhar na área de seguros em Miami. Nessa época, ela
recorda que estava terminando o terceiro ano da residência no InCor. “Meu plano era fazer mais um ano de ecocardiografia,
mas acabei não fazendo porque em dois meses nos mudamos para os Estados Unidos”, conta.
Chegando
ao novo país, a Dra. Laura tinha o objetivo de continuar sua carreira médica. Só não imaginava
que teria de percorrer um caminho tão longo até obter todas as validações para atuar em sua área.
"A validação do diploma foi dificílima. Não saía de casa, só estudava. Consegui
passar nas cinco provas que precisava em menos de um ano, mas precisava também conseguir o visto de trabalho."
A permissão para o trabalho no país saiu alguns meses depois. No entanto, a médica ainda teria de fazer
novamente a residência em Pediatria e o fellowship em Cardiologia Pediátrica para poder atuar como especialista.
“Chegamos aqui no ano de 2000, mas terminei todo o re-treinamento apenas em 2009. Tornei-me professora assistente em
2011, quase aos 40 anos, praticamente dez anos a mais que meus colegas americanos na mesma posição” ela
relata, sobre as dificuldades que enfrentou por estar em outro país.
Treinamento nos EUA
Durante seu segundo ano nos Estados Unidos, a Dra. Laura fez um estágio na Cardiologia Pediátrica
na Universidade de Miami e iniciou a residência de Pediatria no Nicklaus Children’s Hospital. Foram três
anos de residência, entre 2002 e 2005. Nesse período, ela recebeu treinamento de outros médicos que considera
mentores, como o cardiologista pediátrico Leo Lopez, que na época era o diretor do laboratório de ecocardiografia
da instituição e atualmente é professor na Universidade de Stanford.
clique para ampliarDra. Laura Mercer Rosa com uma de suas pacientes com ventrículo
único atendidas no CHOP (Foto: Arquivo Pessoal)
Seguindo o conselho do Dr. Lopez, a médica decidiu
buscar um programa de fellowship em Cardiologia fora de Miami. “Consegui uma entrevista no Children’s
Hospital of Philadelphia (CHOP) e fui aceita para o programa em Cardiologia Pediátrica em 2005”, ela conta.
Foram mais três anos de treinamento para que finalmente pudesse exercer sua especialidade.
Interesse
pela pesquisa
Ao longo de seu treinamento fora do Brasil, a Dra. Laura acabou se interessando também
pela pesquisa clínica, fazendo um mestrado em Epidemiologia Clínica na Universidade da Pensilvânia. “Durante
meu fellow na Filadélfia, a Dra. Elizabeth Goldmuntz, que é cardiologista no CHOP, abriu as portas
para um projeto de pesquisa dela, na área de doenças cardíacas congênitas”, a médica
lembra.
A partir de então, seu interesse pela pesquisa nessa área só aumentou. “Atualmente,
dedico a maior parte do meu tempo à pesquisa”, ela conta. Sua principal linha de pesquisa é em Tetralogia
de Fallot, doença congênita que afeta a oxigenação do sangue e que geralmente requer uma cirurgia
cardíaca no primeiro ano de vida da criança.
clique
para ampliarA médica é filha do Dr. Carlos Alberto Mercer, natural de Tibagi,
que recebeu o diploma de mérito ético-profissional do CRM-PR em 2018 (Foto: CRM-PR e arquivo pessoal)
A médica explica que os resultados dessa cirurgia
variam muito de paciente para paciente, podendo ocasionar problemas residuais no lado direito do coração. “Por
isso é muito importante estudar como esses fatores relacionados à cirurgia podem afetar a vida do paciente em
longo prazo, desde o nascimento até a idade adulta”, ressalta. Além da Dra. Elizabeth, outra grande
influência para a carreira da médica paranaense na pesquisa clínica é o pneumologista Steven Kawut,
da Universidade da Pensilvânia, instituição da qual a Dra. Laura também faz parte como professora
assistente de Pediatria.
Para a Dra. Laura, seu interesse pela pesquisa clínica é complementado
pelo trabalho que ela desenvolve no laboratório de ecocardiografia do Children’s Hospital of Philadelphia.
Como cada caso de Tetralogia de Fallot requer um reparo cirúrgico específico, quanto melhor se conhecem as diferenças
que existem, melhor é o tratamento. Assim, a ecocardiografia é vital para o conhecimento das especificidades
de cada coração.
“O que me deixa fascinada com essa carreira é poder acompanhar
os pacientes e identificar com eles as perguntas que preciso responder por meio da pesquisa”, afirma. Dessa forma, ela
pode expandir seu escopo de trabalho, estudando os tratamentos realizados em centenas de pacientes e seus resultados.
Família
Nascida em Curitiba, a Dra. Laura é filha do médico Carlos
Alberto da Veiga Mercer (CRM-PR 2.382) e de Sonia Macedo Mercer. Seu irmão, Eduardo, também mora em Curitiba
e é advogado, músico e escritor. Sua irmã, Maria Elisa, é arquiteta e mora nos Estados Unidos,
no interior da Pensilvânia. “Minha mãe e meu pai sempre valorizaram muito a nossa educação
e nos deram oportunidade de estudar em ótimas escolas. Eles sempre deram grande apoio aos nossos estudos e me ‘aguentaram’
enquanto eu fazia todas as provas aqui nos Estados Unidos, refazia a residência, fellowship, mestrado...”,
destaca a médica.
clique para ampliarA família Mercer Rosa em diferentes momentos e ocasiões
(Foto: Arquivo pessoal)
O patriarca da família Mercer, Dr. Carlos Alberto,
é natural de Tibagi e formado pela UFPR na turma de 1968. Em 2018, o médico recebeu do CRM-PR o diploma de mérito
ético-profissional, por ter completado 50 anos de exercício da Medicina com exemplar conduta médica.
“Meu pai é minha grande inspiração na Medicina. É o melhor clínico que já
conheci”, orgulha-se a filha.
E, apesar de sempre ter vivido em Curitiba, a médica ainda possui familiares
na cidade natal de seu pai. “Me considero uma tibagiana de coração. “Tentamos passar férias
em Tibagi com as crianças quando possível” ela conta. Mãe de duas adolescentes (Victoria, de 17
anos, e Rafaela, de 15, que nasceram em Miami), a família tem ainda o caçula Francisco, de nove anos, nascido
na Filadélfia. “Os três são americanos e brasileiros, falam português e amam o Brasil”,
ressalta Dra. Laura.
A médica conta ainda que sua filha mais velha foi recém-admitida na Universidade
da Pensilvânia e pretende ser linguista; a do meio é música e faz planos de se tornar produtora musical;
e o mais novo quer ser jogador de futebol profissional. “No momento estamos muito felizes aqui”, resume, confirmando
que não faz planos de voltar a morar no Brasil.
Sobre a conquista de seu sonho, o de construir uma carreira
no exterior, a Dra. Laura faz questão de frisar a importância do apoio que recebeu da família e de pessoas
próximas. “Sem o apoio de meus pais, sem o apoio infindável do meu marido e a paciência dos meus
filhos, e sem a ajuda da Glória, que mora conosco e foi essencial na ajuda com as crianças, eu nunca teria conseguido
fazer uma carreira nos Estados Unidos”, ela resume.
Cidade de Tibagi
Localizado
na região dos Campos Gerais, o município de Tibagi possui cerca de 20 mil habitantes. Conhecido por atrair adeptos
dos esportes e turismo de aventura, está a cerca de 200 quilômetros de Curitiba. Abriga o Parque Estadual do
Guartelá, com uma área de 798,97 hectares, onde está localizado o Cânion Guartelá, o sexto
maior do mundo em extensão e o único com vegetação nativa.
Pandemia da Covid-19
Logo após a finalização desta reportagem, teve início tanto no Brasil como nos
Estados Unidos a pandemia da Covid-19. Pedimos à Dra. Laura que nos enviasse um relato de como está sendo lidar
com essa nova realidade:
“Nosso trabalho passou por uma fase de adaptação no começo
da pandemia para identificarmos os profissionais de saúde ‘essenciais’, ou seja, aqueles que necessitavam
estar trabalhando no hospital. Os outros desenvolveram um sistema de trabalho à distância, com acesso a ecocardiogramas,
por exemplo, e com o uso da telemedicina. Começamos clínicas especiais somente para exames que são imprescindíveis,
como raios-x e ecocardiogramas, e atrasamos os procedimentos cirúrgicos considerados eletivos.
O isolamento
social se tornou uma regra, assim como o uso de equipamento de proteção individual. Todas as reuniões
e sessões didáticas são feitas através da internet, com uso de plataformas permitidas pelo hospital.
A pesquisa clínica envolvendo visitas de pacientes está suspensa, como exceção daquelas nas quais
os pacientes necessitam de medicações ou remédios específicos. Temos reuniões de atualização
para o corpo clínico semanalmente.
O modo de viver mudou completamente e descobrimos que há
outras formas de exercer a profissão e continuar a nossa missão de ajudar nossos pacientes. Conseguimos aumentar
nossos casos cirúrgicos, pois a fila de espera estava ficando preocupante. Não temos casos de Covid-19 por exposição
no hospital como ambiente de trabalho. Passar pela pandemia como médica nos Estados Unidos não é diferente
de estar no Brasil. Talvez haja certa vantagem com respeito ao acesso a cuidados médicos pela população.
Mas certamente a preocupação, o stress e a necessidade de nos adaptarmos são iguais no mundo todo. Mantenho
contato com colegas e amigos no Brasil e sinto que estamos unidos nesta fase tão difícil.”
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