Dr. João Gustavo Gongora Ferraz (CRM-PR 23.772), formado pela Faculdade Evangélica em 2007, pôs em prática sonho de viver
fora do Brasil, reproduzindo caminho feito pelo pai, há mais de 50 anos
Desde muito jovem, o médico cardiologista João
Gustavo Gongora Ferraz (CRM-PR 23.772) possuía dois objetivos: tornar-se médico e morar fora do país.
Embora o desejo pela profissão não tenha uma origem específica, visto ser o único médico
da família, o sonho de explorar terras além-mares, sim. Filho do português Acácio Manuel Correia
Franco Ferraz, que imigrou para o Brasil ainda adolescente, e de Maria José Silva Gongora, Dr. João fez, há
quatro anos, o caminho de volta daquele realizado por seu genitor. Assim, atualmente, ele integra o serviço de Arritmologia
do Hospital de Santa Cruz, localizado na região metropolitana de Lisboa (Carnaxide).
clique para ampliarDr. João reside em Portugal com a família há
quatro anos (Foto: Arquivo pessoal)
Paranaense natural de Maringá, Dr. João formou-se
pela Faculdade Evangélica de Medicina em 2007, tendo conquistado o título de especialista em Cardiologia pelo
Hospital da Cruz Vermelha do Paraná, no ano de 2011. Foi durante esse período que ele descobriu a vocação
para a ecocardiografia e a arritmologia.
Após obter a titulação, Dr. João atuou em
alguns hospitais e principalmente em sua clínica particular. Nessa época, ouviu do professor de uma pós-graduação
em Gestão de Saúde que estava cursando o conselho que o faria resgatar um plano até então adormecido.
“Ele comentou que, geralmente, as pessoas que conseguem deixar sua zona de conforto e apostar em algo incerto são
as mais bem-sucedidas.”
clique para ampliarFamília Ferraz no Parque Eduardo VII, na Praça
Marques de Pombal, com o rio Tejo ao fundo (Foto: Arquivo pessoal)
O conselho reacendeu-lhe o antigo sonho de viver fora
do Brasil, em especial, na Europa. “Minha mãe diz que sou bastante parecido com meu pai, de querer explorar o
mundo. Juntando a isso o fato de que passávamos por uma crise no país e o nascimento de minha filha, decidi
que era hora de mudar”, conta. O cardiologista enviou vários currículos, principalmente para Portugal,
e em poucos meses as respostas começaram a chegar.
Nesse momento, o apoio especial da esposa e de dois colegas da área é lembrado com carinho pelo
paranaense. “Não poderia deixar de citar os Drs. Enio Eduardo Guérios e Paulo Maurício Piá
de Andrade, que me deram grande apoio e segurança, dizendo que se não desse certo me receberiam de volta”,
ele conta. “Sempre que vou ao Brasil faço questão de ir ao Hospital Pilar visitá-los.”
Revalidação do diploma
A mudança para outro país traria alguns desafios adicionais à família Ferraz, além
da adaptação a uma nova cultura. A obtenção da validação do diploma em Medicina
(e em Fisioterapia, no caso de sua esposa, Cristiane Ochinski) e da nacionalidade portuguesa a todos os integrantes da família
foi bastante burocrática, levando algum tempo para todos os processos serem concluídos.
No caso do Dr. João, ele deveria realizar a chamada
“Prova de Estado”, equivalente ao Revalida no Brasil, aplicada por uma faculdade de Medicina. O cardiologista
explica que a prova segue atualmente um modelo unificado, sendo aplicado pelas faculdades públicas do Porto, Lisboa
ou Coimbra, geralmente na metade de cada ano.
Uma
vez aprovado nas duas fases do exame – escrita e prática –, o médico precisa realizar uma prova
de Terminologia Médica, que testará a proficiência do profissional na língua, para, então,
obter a inscrição na Ordem dos Médicos. “Com essa inscrição, o profissional estará
habilitado para atuar em Portugal como médico indiferenciado (nome dado ao médico sem especialidade) e, após
dois anos de inscrição, essa autorização se estende aos países da União Europeia,
dependendo apenas da proficiência na língua de cada país específico”, explica.
Sistema de Saúde
O médico explica que o sistema de saúde
em Portugal é baseado na Medicina de Família. "Todo cidadão tem o seu médico de família.
É ele que faz tudo, consultas, encaminhamento para especialista, todo o acompanhamento do paciente em geral." Assim, os profissionais estrangeiros que obtêm o registro
da Ordem geralmente iniciam seus trabalhos nas urgências dos centros de saúde e dos hospitais. Para Dr. João,
a adaptação foi bastante tranquila. “Os portugueses gostam muito da empatia do brasileiro, principalmente
porque a população é bastante idosa”, afirma.
clique para ampliarDr. João com a Dra. Anaí Durazzo e o Dr. Pedro
Adragão, chefe da equipe de Arritmologia do Hospital de Santa Cruz (Foto: Arquivo pessoal)
Já sobre o relacionamento com os colegas de profissão,
o processo foi mais lento. “Claro que existe um receio por parte dos médicos portugueses, assim como existe no
Brasil em relação aos profissionais que vêm de fora”, pondera. “Isso nos obriga a provar ainda
mais a nossa capacidade, mas, uma vez que a gente conquista a confiança de nossos pares, as coisas se tornam muito
mais fáceis, e não falta trabalho”, garante o médico, que integra atualmente a equipe de Arritmologia
do Hospital de Santa Cruz, sob o comando do cardiologista Prof. Dr. Pedro Adragão.O Dr. João Gustavo explica que a saúde no país é tendencialmente
gratuita (terminologia trazida pela lei Portuguesa). Baseados na equidade, os valores dos procedimentos realizados são
compostos de taxas moderadoras de acordo com a renda da pessoa. Para tanto, o Sistema de Saúde é interligado
ao Financeiro, de forma que os valores referentes a cada indivíduo sejam conhecidos automaticamente.Nesse sistema, cada macrorregião possui seu hospital
de referência, obrigatoriamente polivalente. “Assim, não existe central de leitos, por exemplo. Se o cidadão
reside naquela região, o hospital não poderá negar atendimento a ele caso precise ser encaminhado de
algum Centro de Saúde ou qualquer outro hospital Português, seja ele público ou privado”, explica
o cardiologista.Certificação
de Especialidade
Em relação às especialidades médicas, Dr. João explica
que é possível para o profissional estrangeiro regularmente inscrito na Ordem dos Médicos atuar
dentro de sua área em Portugal, desde que tenha um tutor, que se responsabilizará solidariamente por todos os
atos médicos praticados. Para se obter a Certificação da Especialidade, no entanto, existem regras específicas
de cada Colégio de Especialidades.
clique para ampliarO médico com a filha, Rafaela, e a Torre de Belém
ao fundo, um dos cartões-postais da capital portuguesa (Foto: Arquivo pessoal)
“Nem todas as especialidades concedem equivalência,
e as regras mudam bastante entre uma e outra”, explica. Em alguns casos, são exigidos, além das comprovações
de conteúdo e de experiência profissional, provas objetiva e oral. Em outros, o médico somente poderá
atuar dentro daquela especialidade se fizer novamente a residência, chamada de “internato”.No caso do Dr. João, ele acredita que contou com
uma boa dose de sorte. Logo que chegou a Portugal, conheceu outra médica brasileira, a Dra. Anaí Durazzo. Paulistana
e egressa do Incor, ela havia recém-conquistado a equivalência da Cardiologia. “Ela foi minha grande tutora.
Assim, fiz algumas equivalências curriculares, de forma a adequar meu currículo ao exigido pelo Colégio
de Especialidades”, lembra o médico.Somente
depois de cumprir as horas necessárias, ele foi autorizado a prestar a prova de equivalência, que ocorreu no
ano passado, na cidade de Braga. “Foram dois dias de prova, com todas as fases eliminatórias, uma curricular,
um estudo de caso e uma última fase de prova oral”, lembra-se. Após todo o escrutínio, Dr. João
obteve, finalmente, o título reconhecido.Origem
portuguesa
A história do Dr. João com Portugal remonta à geração anterior
da família. Seu pai, Sr. Acácio Manuel, chegou ao Brasil em 1961, aos 18 anos. O país enfrentava uma
guerra com as antigas províncias de Angola, Guiné-Bissau e Moçambique, a chamada Guerra Colonial ou Ultramar,
e impunha o alistamento obrigatório aos jovens portugueses.
clique para ampliarA Catedral de Maringá, que foi construída com
a ajuda do Sr. Acácio Manuel, engenheiro civil, pai do Dr. João (Foto: iStock)
Chegando ao Brasil, o Sr. Acácio instalou-se na região
de Guaíra, onde permaneceu até a chegada de alguns primos, com os quais se mudou novamente, desta vez para a
cidade de Maringá. Ali, ele ingressou em uma das primeiras turmas de Engenharia Civil da Universidade Estadual de Maringá
(UEM). “Meu pai era uma pessoa extremamente ativa na comunidade; ajudou a construir o Centro Português de Maringá
e outros prédios importantes na cidade, além de desenvolver o projeto da Catedral”, conta o Dr. João,
orgulhoso. Como ainda tinha muitos
parentes residindo do outro lado do Atlântico, o Sr. Acácio Manuel costumava voltar a Portugal com frequência,
principalmente para visitar as duas irmãs que ainda lá residiam, até o seu falecimento, há seis
anos. D. Maria José, mãe do Dr. João, mora em Curitiba, onde também vivem seus outros dois filhos:
Antônio Gabriel, primogênito, que é engenheiro, e Paulo Roberto, irmão gêmeo do cardiologista,
que é advogado.Vida em
Portugal
Uma das grandes razões apontadas pelo médico para se viver em Portugal é
a segurança. “Moro em Oeiras, a poucos minutos de Lisboa e de Cascais. O hospital em que trabalho e a clínica
de cardiologia onde também atendo ficam perto da minha casa, vou de trotinete elétrica todos os dias”,
ele conta. O fator segurança é comum a muitos médicos brasileiros que ele conhece no país.
clique para ampliarDr. João com os pais, Acácio Manuel e Maria
José, além dos irmãos Antônio e Paulo (Foto: Arquivo pessoal)
Além disso, Dr. João afirma que a família
se adaptou naturalmente à nova rotina. Sua filha, Rafaela, que tinha três anos quando saíram de Curitiba,
foi a que mais rapidamente se integrou à vida no novo país. “Ela gosta muito daqui; para o aniversário
de sete anos, já me disse que não vai querer festa, mas sim passear.” Sua esposa, Cristiane, também
obteve a nacionalidade portuguesa e a validação de sua formação em Fisioterapia, e está
trabalhando na área.Encantado com
a vida na terra natal de seus antepassados, o Dr. João Gustavo não faz planos de voltar definitivamente ao Brasil.
A beleza do país, com sua tradicional culinária e ótimos vinhos, aliada à proximidade de muitos
locais para se conhecer, são-lhe fatores de grande estima. “Amo viver neste país. A vida em Portugal é
relativamente barata, com uma qualidade de vida muito boa. Aqui não se fica rico, mas se vive muito bem. Hoje dou graças
a Deus ter escolhido esse caminho, não me arrependo. Nada disso seria possível se não tivesse o grande
apoio da minha esposa, familiares e amigos. Tenho certeza de que meu pai, esteja onde estiver, está orgulhoso de mim.”Médicos Paranaenses pelo MundoPara saber mais sobre o espaço criado e indicar
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