10/05/2012
Projeto do CFM visa avaliar as condições de trabalho, transporte, educação e saúde nos municípios com os menores Índices de Desenvolvimento Humano do país.
O Conselho Regional de Medicina do Paraná integrou-se este ano ao Projeto Caravana Nacional 2012, coordenado pela Comissão de Ações Sociais do Conselho Federal de Medicina e que objetiva maior aproximação com a população e avaliar as condições de vida nas municipalidades, em especial no que se refere a atenção à saúde. Foram escolhidos para visitas de equipes do Departamento de Fiscalização Profissional três municípios que estão entre os com piores avaliações de IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) no Estado.
As avaliações ocorreram nos dias 11 e 12 de abril nos municípios de Ortigueira (1.º com pior
IDH na última pesquisa), Doutor Ulysses (2.º) e Guaraqueçaba (7.º), contemplando assim três
regiões problemáticas em termos de assistência: Campos Gerais, Vale da Ribeira e Litoral. As equipes,
formadas por um conselheiro, dois médicos fiscais e seis funcionários do CRM-PR, desenvolveram a pesquisa reunindo
informações sobre o cotidiano dos habitantes no que concerne aos serviços públicos de transporte,
saúde, educação, moradia e coleta de lixo, entre outros aspectos. De modo geral, a análise tem
singularidade com os estratos sociais observados no IDH.
Metodologia
"O 3º município com
IDH mais baixo é Mato Rico, mas como tínhamos o intuito de mostrar regiões distintas do Paraná
optamos por Guaraqueçaba. Desta forma, visitamos uma cidade da região de Campos Gerais, uma do Vale do Ribeira
e outra do Litoral", explica Donizetti Dimer Giamberardino Filho, coordenador do Departamento de Fiscalização
(DEFEP) do CRM-PR.
"Em cada local entrevistamos 10 moradores em média e constatamos que a estrutura de saúde
é mínima, oferecendo apenas consultas e procedimentos de pequeno porte. Além disso, as condições
sanitárias dos três municípios são precárias", avalia Donizetti. A falta de estrutura determina
a necessidade de deslocamento da população para outras cidades para fazer exames e obter tratamentos mais complexos.
As entrevistas mostraram, ainda, que as oportunidades de emprego são escassas e, quando há, as mulheres têm
mais dificuldade em conseguir trabalho.
O sistema de educação foi elogiado em Ortigueira (com transporte
efetivo e uniformes para os estudantes) e em Doutor Ulysses (apesar da estrutura precária a qualidade do ensino é
considerada boa), sendo que Guaraqueçaba tem uma escola particular e uma pública (esta não foi aprovada
na avaliação do MEC).
Os entrevistados se queixaram da falta de infraestrutura para diversão
e consideram ir à igreja uma forma de lazer. Guaraqueçaba se destaca pela existência de praça com
mesas de xadrez, ginásio de esportes, trilhas e fácil acesso à pesca. O transporte público nos
três locais é deficiente e até inexistente, salvo pelo escolar e de pacientes. Já a moradia é
desordenada, sendo 90% das casas construídas com madeira em Doutor Ulysses e de alvenaria em Ortigueira e Guaraqueçaba.
O município litorâneo se destaca pela ausência de favelas e moradores de rua.
As visitas de fiscalização
resultaram em um relatório que foi enviado ao CFM para ser apresentado ao Ministro da Saúde solicitando providências
de acordo com as peculiaridades observadas em cada região.
Participantes da "Caravana"
Dr. Donizetti
Dimer Giamberardino Filho, coordenador do Departamento de Fiscalização, médicos fiscais Jun Hirabayashi
e Elisio Rodrigues e as funcionárias Evelyn Prá, Marcia Pereira, Katia Kist, Whytney Magalhães, Adele
Schneider e Vinicius Silva.
Depoimento:
"Guaraqueçaba é um município de difícil
acesso, existindo duas formas de se chegar lá, via barco ou estrada de chão. Percebi que há uma grande
dificuldade na geração de empregos, o que faz com que as pessoas saiam da cidade em busca de trabalho. Os entrevistados
relatam que não há violência, porém o uso de drogas está se proliferando cada vez mais e
a maioria desconhece ações de combate a esta prática. Todos se mostraram satisfeitos com a coleta de
lixo, que ocorre diariamente, sendo duas vezes por semana a dos materiais recicláveis. Durante as entrevistas fui informada
da existência de comunidade negra no município, os chamados Quilombolas. Também existem comunidades indígenas
que possuem uma equipe médica específica para atendê-la e sempre que chamada desloca-se até lá.
Muito me chamou a atenção a existência de um barco escolar para transporte dos estudantes, bem como a
existência de uma Ambulancha, mas ao mesmo tempo não existe transporte público. Os moradores reclamam
da falta de especialistas no município."
Adele Schneider, funcionária do DEFEP