05/11/2009

Campanha quer prevenir suicídio

Projeto da Associação Brasileira de Psiquiatria inclui vídeo exibido na TV e material informativo; Para entidade, suicídio é questão de saúde pública e campanhas desse tipo têm impacto na redução do número de mortes.


A ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria) lança durante o 27º Congresso Brasileiro de Psiquiatria, que começa hoje em São Paulo, uma campanha de prevenção ao suicídio. Serão distribuídos material informativo para o público leigo e um manual de informações para a imprensa e será veiculado em rede nacional um vídeo de 30 segundos sobre o problema.
Para a ABP, o suicídio é uma questão de saúde pública. "É um problema grave, que acaba sendo mascarado. Muitas tentativas [de se matar] entram como acidentes domésticos, de trânsito. Campanhas de conscientização têm impacto na prevenção dessas mortes", afirma Luiz Alberto Hetem, vice-presidente da associação.

O número de casos de suicídio cresceu 60% nos últimos 45 anos, de acordo com a OMS. A organização estima que, de 2002 a 2020, o aumento será de 74%, chegando a um suicídio a cada 20 segundos -hoje, a taxa é de um a cada 40 segundos.
No Brasil, estimativas sugerem que ocorram 24 suicídios por dia, mas o índice deve ser 20% maior. Entre os jovens, a taxa multiplicou-se por dez de 1980 a 2000: de 0,4 para 4.
O número de tentativas é de dez a 20 vezes mais alto do que o de mortes. "Nenhum país tem registro de tentativas, mas os cálculos vão nessa proporção. Podemos extrapolá-los para o Brasil", afirma o psiquiatra Neury Botega, professor de psiquiatria da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e um dos principais estudiosos do tema no país.

Um estudo feito pela Unicamp com uma amostra aleatória de 515 habitantes de Campinas (interior de SP) mostrou que 17% deles já tinham pensado seriamente em acabar com a própria vida e 3% haviam efetivamente tentado o suicídio.

As taxas são três vezes mais altas entre os homens, segundo Botega, mas as mulheres tentam mais tirar a própria vida. "Os homens são mais agressivos e impulsivos do que as mulheres e, quando tentam suicídio, o fazem de forma mais agressiva", analisa Botega.

O Ministério da Saúde criou em 2006 a Estratégia Nacional de Prevenção do Suicídio, para reduzir o número de mortes por suicídio. Entre as ações, o ministério diz que publicará um manual de prevenção do suicídio para profissionais da atenção básica de saúde.


Sinais

A campanha pretende focar na prevenção do problema, com o argumento de que alguns transtornos mentais frequentemente estão envolvidos com o suicídio. Um trabalho da OMS com mais de 16 mil pessoas constatou que 90% dos casos puderam ser relacionados com problemas como depressão, ansiedade, uso de álcool ou drogas e esquizofrenia.

"Não se trata de "psiquiatrizar" o suicídio, mas sim de dizer que um dos fatores pode ser uma doença mental não detectada", acrescenta Botega.

Os especialistas afirmam que quem está pensando em se matar pode emitir alguns sinais. O principal deles é uma tentativa de suicídio frustrada. "Há casos de pacientes que fizeram cortes superficiais ou tomaram pouco remédio, e alguns banalizam, achando que a pessoa não vai se matar. Mas ela dá vários sinais de que está mal, sofrendo, com depressão profunda", exemplifica Luiz Alberto Hetem.

Pessoas que tentaram tirar a própria vida devem passar por uma avaliação psiquiátrica e, se for o caso, iniciar tratamento.

Análises póstumas do histórico de um suicida mostram ainda que a maioria apresenta um alto grau de desesperança (quando não acredita que existe a possibilidade de melhora de alguma condição). Os níveis de ansiedade também são mais altos nesses pacientes -a maior tendência em agir impulsivamente aumenta as chances de cometer suicídio.


Fonte: Folha de São Paulo

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