O Brasil é o segundo país do mundo que mais realiza transplantes, ficando atrás somente dos Estados
Unidos. De acordo com o Ministério da Saúde, apenas em 2021, foram feitos cerca de 23,5 mil procedimentos. Desse
total, cerca de 4,8 mil foram transplantes de rim, dois mil de fígado, 334 de coração e 84 de pulmão,
por exemplo. Os altos índices são explicados pela existência do maior programa público do planeta
direcionado às cirurgias, que são gratuitas e garantidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Na outra ponta, quando o assunto é doação de órgãos, o Brasil ainda revela um cenário
preocupante e oportunidades de muito crescimento, estimulado por uma maior conscientização sobre o tema. Também
segundo o Ministério, o país em 2021, contava com 50 potenciais doadores de órgãos para cada milhão
de pessoas. O número ainda é muito baixo em relação a outros países, como Espanha, Bélgica,
Malta, França, República Tcheca, Finlândia ou Noruega. A lei espanhola, por exemplo, diz que toda pessoa
que morre é presumidamente doadora de órgãos, a menos que tenha manifestado opinião contrária
em vida.
Atualmente, 60 mil pessoas estão na fila no Brasil esperando pela doação de órgãos.
Só em 2022, mesmo após morte encefálica comprovada, cerca de 42% das famílias não concordaram
com a doação, segundo a Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO). A
cada milhão de pessoas, menos de 20 são doadoras de órgãos, o que aumenta a fila de espera por
um transplante.
Além disso, de acordo com a ABTO, a pandemia causada pela Covid-19 fez com que o número de procedimentos
diminuísse ainda mais em todo o país em 2020. Em 2021, 4.200 pessoas morreram à espera de um transplante.
Aos poucos, este cenário começa a mudar, mas ainda há um longo caminho de conscientização
pela frente.
Campanha Quando a Vida se Renova
Para estimular a mudança da condição, a campanha Quando a Vida se Renova criou uma série
documental, já disponível na internet, reunindo depoimentos de pacientes transplantados, familiares, doadores,
médicos, ONGs e demais envolvidos em todas as etapas do processo de transplantes de órgãos e tecidos.
ASSISTA AOS VÍDEOS AQUI.
Nos episódios, os transplantados contam, em detalhes, toda a trajetória que enfrentaram até conseguir
seu procedimento e ganharem uma nova chance de viver. Todos os vídeos podem ser vistos
aqui. A campanha tem apoio da Sociedade Brasileira de terapia Celular e Transplante
de Médula Óssea (SBTMO), ABTO e da Biometrix Diagnóstica.
Wellington, de 40 anos, foi diagnosticado com leucemia aos 37 anos e destaca a importância dos pacientes não
desistirem de nenhuma das etapas do tratamento. “Eu diria para que as pessoas que estiverem em tratamento sigam os médicos,
o tratamento, se apeguem à fé, no caso de terem alguma, e que enfrentem com confiança as diferentes etapas
do tratamento, porque hoje existem muitos caminhos para a cura e a doação de órgãos é uma
delas. Por isso, é tão importante que esse banco de doadores cresça”, afirma.
“Na época, eu estava me preparando para correr uma meia maratona em uma montanha e estava cuidando muito
da minha saúde. Uma semana depois da corrida de 21 quilômetros que fiz, comecei a sentir uma exaustão,
um cansaço muito grande. Depois, tive febre, suor noturno e fui buscar um médico desconfiando que eu estava
com dengue, mas, depois do exame de sangue, descobrimos a leucemia. Ao ter conhecimento do diagnóstico, minha vida
mudou por completo, porque fiquei internado no mesmo dia. Foram 30 dias internado e já comecei o processo de quimioterapia.
Meu médico me disse: ‘ou você luta, ou você desiste’. Escolhi a primeira opção
e, a partir dali, por ser uma pessoa muito curiosa, fui buscar entender em detalhe o que era a leucemia e como funcionava
o transplante. Todas as vezes que eu lia um relato e a pessoa dizia que se curou, eu acreditava que isso aconteceria comigo
também. Também tive um amparo médico muito grande, que fez com que eu me tranquilizasse porque no transplante
estava a possibilidade da minha cura. E foi o que aconteceu”, conta.
A médica hematologista Carmem Vergueiro, fundadora da Ameo (Associação da Medula Óssea),
explica que há cerca de 20 anos não tínhamos no Brasil um banco de doadores de medula, ou testes de compatibilidade,
sofisticados que pudessem facilitar os transplantes. “Hoje, as possibilidades de cura ou fornecimento de mais qualidade
de vida aos pacientes são enormes. Temos bancos de doadores muito ricos. Somos o terceiro maior registro de doadores
do mundo. São mais de cinco milhões de pessoas cadastradas e os tratamentos estão disponíveis
gratuitamente à população pelo Sistema Único de Saúde, o SUS, algo que é muito valioso
e importante. É um enorme diferencial disponível no Brasil”, explica. Carmem ainda destaca que pessoas
com até 35 anos podem se cadastrar no registro de doadores. “É muito importante que esse banco seja permanentemente
renovado”, diz ela.
Como se tornar um doador de órgãos?
É possível realizar a doação de órgãos (rim, coração, fígado,
pâncreas e pulmão) ou de tecidos (córnea, pele, ossos, válvulas cardíacas, cartilagem, medula
óssea e sangue de cordão umbilical). Um único doador que teve morte encefálica pode ajudar até
dez pessoas que estão na fila de espera do transplante.
Para ser um “doador vivo”, é importante a pessoa apresentar boas condições de saúde,
passar por avaliações médicas, ser capaz juridicamente e, principalmente, concordar com a doação.
Legalmente, pais, irmãos, filhos, avós, tios e primos podem ser doadores. No caso de doação para
uma pessoa que não seja parente, é preciso obter autorização judicial. Neste caso, os órgãos
considerados para doação podem ser rim, fígado, pulmão e medula óssea.
Todas podem ser consideradas doadoras em potencial, independentemente da idade ou histórico médico. O que
determinará a possibilidade de transplante e quais os órgãos e tecidos que poderão ser doados
é uma avaliação do corpo feita por meio de exames clínicos, de imagem e laboratoriais no momento
da morte. O mais importante é deixar claro para a família o seu desejo de ser doador. No Brasil, o transplante
de órgãos só pode ser realizado após autorização familiar.
Não podem ser doadores de órgãos somente pessoas com diagnóstico de tumores malignos, doença
infecciosa grave aguda ou doenças infectocontagiosas – destacando-se o HIV, as hepatites B e C e a doença
de Chagas. Também não podem ser doadores os diagnosticados com insuficiência de múltiplos órgãos,
situação que acomete coração, pulmões, fígado, rins, impossibilitando a doação
desses órgãos.
Fonte: Assessoria de Imprensa