03/04/2021

Câmara de Curitiba debate impactos da pandemia com representantes de profissionais da saúde

Evento “a saúde pede ajuda” foi organizado pelo vereador Dalton Borba e teve a participação do Conselho de Medicina do Paraná e Sociedade Brasileira de Infectologia

O vereador Dalton Borba (PDT) promoveu o evento “a saúde pede ajuda”, na Câmara Municipal de Curitiba, para debater o colapso na saúde provocado pela pandemia do coronavírus. O seminário, realizado pela web na tarde de 1.º de abril, reuniu médicos, enfermeiros, auxiliares de enfermagem, vereadores e membros e representantes de entidades de classe como: Conselho Regional de Medicina do Paraná (CRM-PR), Sindicato dos Médicos do Paraná (SIMEPAR), Conselho Regional de Enfermagem (COREN-PR), Sindicato dos Servidores Municipais da Enfermagem (SISMEC), Sindicato dos Empregados em estabelecimentos de serviços de saúde, (SINDESC PR) e Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).

O CRM-PR esteve representado pelo presidente, Roberto Issamu Yosida, pelo vice Wilmar Mendonça Guimarães, secretário-geral Luiz Ernesto Pujol, corregedor Maurício Marcondes Ribas, gestor da Codame, Afrânio Bernardes, a 1.ª secretária Nazah Cherif Mohamad Youssef e Donizetti Dimer Giamberardino Filho, 1.º gestor do Departamento de Fiscalização do Exercício Profissional do CRM-PR e 1.º vice-presidente do Conselho Federal de Medicina.

clique para ampliarclique para ampliarEvento realizado na tarde de quinta-feira (1.º). (Foto: CMC)

O presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, Clóvis Arns, fez a abertura do evento, e destacou que o mês de março de 2021, foi o pior mês desde o início da pandemia, com o maior registro de óbitos provocados pela Covid-19, quase 62 mil mortes, número bem superior ao mês de julho de 2020, que tinha registrado o recorde de mortes no ano passado, 30 mil óbitos.

“Estamos numa situação bem crítica, em 34 anos de profissão jamais pensei enfrentar uma batalha como essa, ver pacientes entubados, em estado grave. A falta de médico, enfermeiro e fisioterapeutas, equipes para fazer o atendimento dos pacientes”, declarou. O infectologia mostrou-se otimista com a vacinação, ele destacou a eficácia de até 95% de algumas das vacinas aprovadas pela Anvisa, que evitam o desenvolvimento da forma grave da doença, e a necessidade das internações. Ele destacou ainda que mesmo com a vacinação, é preciso manter as medidas preventivas com o distanciamento social, evitar e combater as aglomerações, manter as medidas de higiene com uso do álcool em gel, e principalmente continuar com o uso de máscaras, medidas que para o médico são exemplos de cidadania.

Dr. Clóvis Arns enfatizou durante a reunião que é momento de nos unirmos, de deixarmos as diferenças ideológicas e políticas de lado, pois temos um único inimigo, o Sars-Cov-2, que está provocando a maior tragédia econômica e social, com impacto direto na saúde pública. Na apresentação, o infectologista também apresentou as abordagens de alguns estudos científicos sobre o tratamento precoce, que segundo ele não tem eficácia científica comprovada, causam efeitos colaterais, e que esse momento é de união de todos, com sensibilidade social e humana para ajudarmos uns aos outros. “Essa discussão tratamento precoce é ideológica, não é cientifica, só gera calor e não gera luz. A solução é a vacinação em massa, e continuar com as medidas preventivas, essas serão a nossa salvação”, finalizou.

A auxiliar de enfermagem, Isabel Cristina Gonçalves, presidente do sindicato dos empregados em estabelecimentos de serviços de saúde, ressaltou que é preciso cuidar e valorizar os profissionais de saúde, pois eles é que “salvam vidas”. Ela destacou que muitos desses profissionais da linha de frente ainda não foram vacinados, que não há equipamentos de proteção adequados, e nem testagem para os trabalhadores da saúde. Isabel Gonçalves apontou a necessidade de investimentos no setor, que é preciso deixar o negacionismo de lado, e valorizar os profissionais da enfermagem, com salários dignos e jornadas de trabalho que não sobrecarreguem a jornada de trabalho. “Muitos desses profissionais da enfermagem tem tripla jornada, são mulheres chefes de família que precisam ser valorizadas, e precisam ter os meios adequados para cuidar de quem precisa”, concluiu.

Luiz Gustavo de Andrade, advogado do Sindicato dos Médicos do Paraná, falou sobre a crescente judicialização da saúde e a questão da terceirização dos serviços públicos, como ocorreu em algumas Unidades de Pronto Atendimento (UPA)s de Curitiba. Relatou que, recentemente, a justiça reconheceu a ilegalidade da contratação da Organização Social da UPA CIC, e declarou nulo o edital de contratação. O advogado destacou ainda a questão da precarização dos serviços terceirizados, e também a falta de equipamentos de proteção e de testagem para os profissionais da saúde, que só foram fornecidos pelo poder público depois de reiteradas decisões judiciais.

Raquel da Silva Padilha, presidente do SISMEC, sindicato dos servidores da enfermagem de Curitiba, enfatizou que é a enfermagem que fica 24 horas junto com o paciente, que conhece de perto a intimidade desse paciente, seus medos e o que espera do futuro, quando se recuperar da doença. As mulheres representam 90% da categoria, são mulheres chefes de família, com filhos e casa para cuidar, essas dificuldades se acentuam ainda mais, segundo ela. “Os profissionais da enfermagem estão exaustos, com problemas psicológicos. Os equipamentos de segurança são inadequados, não há testagem, faltam medicamentos, materiais, oxigênio, recursos humanos, sobra dor e tristeza, sobram pacientes e faltam investimentos e vacinas”, concluiu.

Os profissionais da saúde também estão entre as maiores vítimas da pandemia. Segundo dados do último boletim da secretaria estadual de saúde (SESA), foram 280 mortes desde o início da pandemia no Paraná, em março de 2020. A categoria da enfermagem é a mais atingida, com 87 mortes, seguida dos médicos com 56 óbitos.

Essa foi uma das preocupação trazidas ao debate pela presidente do Conselho Regional de Enfermagem do Paraná, Rita Sandra Franz, já que nem todos os profissionais da enfermagem estão vacinados. Ela destacou que há situações aviltantes, onde o profissional não tem nem um local adequado para o descanso digno, após um plantão de 24 horas de trabalho. “Somos 115 mil profissionais no Paraná, 30 mil só em Curitiba, não há  reconhecimento financeiro e nem social, o salário é injusto e ainda não estão recebendo os 40% de insalubridade. A fragilidade física e emocional, há um crescimento das doenças psiquiátricas e físicas, temos que cobrar reconhecimento e medidas das autoridades”, finalizou.

O presidente do Conselho Regional de Medicina do Paraná, Roberto Issamu Yosida, demonstrou a preocupação dos médicos com a falta de insumos e medicamentos, fármacos para entubação e oxigênio. O médico destacou ainda que é preciso intensificar as medidas de prevenção junto a população, como foi com o uso do cinto de segurança, mesmo com a vacinação é necessário manter as medidas preventivas por um longo período ainda e quem sabe pra sempre. O presidente do CRM PR ainda defendeu o exame do Revalida, processo que faz a revalidação dos diplomas de médicos que se formaram no exterior e querem atuar no Brasil, para que os pacientes possam ter o atendimento adequado. Ao final da sua exposição, o presidente do CRM-PR, muito emocionado, fez menção aos 56 médicos que morreram no Estado em decorrência da pandemia, e destacou o elevado nível de stress que esses profissionais estão enfrentando. “Vocês não sabem o que é ouvir as últimas palavras de alguém, o último olhar do paciente”, declarou.

A médica Cláudia Paola Carrasco Aguiar, representou o sindicato dos médicos do Estado do Paraná, e enfatizou o desmonte da atenção básica de saúde com o processo de terceirização, a precariedade do atendimento e a falta de equipamentos de segurança para os profissionais da área, falta de máscaras adequadas, falta de valorização desses profissionais da saúde. Ela destacou também a gravidade da falta de insumos e medicamentos adequados para entubar os pacientes, a falta de oxigênio, precisamos garantir o direito à saúde como está na Constituição. Outra preocupação que a médica trouxe à reunião foi sobre a definição de qual paciente deve ser encaminhado para a UTI. “Estamos num cenário de guerra que vai deixar sequelas emocionais; é o peso de se passar por uma pandemia, vamos ter sempre essa lembrança pesada. Os profissionais da saúde estão com esgotamento físico e mental, sofrimento intenso, com crises de pânico que se prologam há mais de um ano. Sem vacina não há uma saída, precisamos as medidas de proteção e de distanciamento também”, finaliza.

O secretário-geral do CRM-PR, Luiz Ernesto Pujol, comentou também sobre o processo do exame do Revalida. O médico defendeu o exame, e destacou que o conselho não tem qualquer ingerência sobre a prova, e que esse processo cabe ao Ministério da Educação, e os aprovados no processo do Revalida são registrados nos respectivos conselhos, não há nenhuma reserva de mercado e nem corporativismo, é a boa medicina que deve ser ofertada à população. Enfatizou ainda que o legislador precisa sempre ouvir as partes, dialogar e que esses espaços abertos no legislativo são importantes para o debate. Emocionado, encerrou a participação no evento destacando a dor do médico quando perde um paciente. “ Cada atestado de óbito que o médico assina é uma cicatriz perene na sua alma. Imagine 320 mil óbitos”, concluiu Pujol.

Também participaram do evento, os vereadores Marcos Viera (PDT), presidente da Frente Parlamentar da vacina, da câmara municipal de Curitiba, Renato Freitas (PT), Herivelto Oliveira (cidadania), e Professora Josete (PT).

O vereador Dalton Borba destacou que todos os assuntos apresentados na reunião serão levados para o debate no plenário. “Vamos colocar a nossa câmara municipal para discutir essas questões importantes para o combate a pandemia, através de requerimentos, sugestões ao executivo e projetos de lei. Vamos contribuir de maneira efetiva para melhorar o sistema de saúde, e auxiliar os profissionais da saúde que lutam com tanta bravura e coragem na linha de frente”, declarou Borba.

Fonte: Assessoria de Imprensa do deputado Dalton Borba.

Envie para seus amigos

Verifique os campos abaixo.
    * campos obrigatórios

    Comunicar Erro

    Verifique os campos abaixo.

    * campos obrigatórios