14/09/2009
Caligrafia Médica
O receituário médico em tempos atuais está sendo escopo de propagandas nacionais no sentido de incentivar o profissional a
redigi-lo de uma forma legível. Grande parte das vezes o medicamento prescrito pelo profissional não é identificado ou até
mesmo embaido por outro, por conta de uma caligrafia ilegível. Julgo que nós, médicos, deveríamos diligenciar melhor a prescrição
de uma forma que seja traduzida pelo próximo, evitando assim consequências nefastas para o paciente. Também, os Conselhos
de Medicina e Farmácia estão promovendo campanhas educativas no sentido de melhorar o receituário médico. Legítimos esses
esforços para consecução de melhorias de resultados manuscritos do receituário profissional.
Todavia, a grafia legível
veio para ficar, tratando-se no futuro de uma atitude inevitável. E, isto é evolução. Em seguida a esse processo, lembramos
que o médico tem que cumprir o seu dever, ou seja, tem que fazer uma boa anamnese, examinar o paciente, em alguns casos solicitar
exames, anotar minuciosamente no prontuário, preencher formulários e relatórios e finalmente tratar prescrevendo com letra
legível. Devemos, no entanto, estar preparados para constatar e, sobretudo, somos forçados a admitir que é necessário tempo
para atendermos uma consulta com toda esta arte acadêmica respeitando e atendendo o paciente de uma forma integrada. Uma consulta
pelos planos de saúde ou mesmo um procedimento cirúrgico, os valores são aviltantes, imaginem então o médico que atende pelo
SUS ou opera por este sistema.
Assim, para ter uma remuneração digna tem que atender um grande volume de pacientes em
um curto espaço de tempo. Não seria de bom tamanho, antes ou mesmo associado a esse intento, defender uma remuneração justa,
proporcionando uma qualidade melhor da consulta médica em todos os sentidos, inclusive na caligrafia. Outrossim, para que
o profissional cumpra o seu dever de uma forma plena, necessita que seus direitos sejam respeitados. Ou seja, precisa de tempo
para exercer a arte da medicina de uma forma cabal. Não se deve olvidar, ainda, que temos que dar condições a esse profissional,
atropelado pelos planos de saúde e, principalmente, pela saúde pública, a prerrogativa de ouvir, escutar, auscultar, examinar,
solicitar exames, enfim, proceder a arte médica e só depois tratar, prescrevendo com letra legível, num intervalo de tempo
legítimo.
Entretanto, obviamente, como imaginar uma caligrafia descente sem antes dar condição ao médico de fazê-la sem
atropelos. Igualmente, o bom senso é a observação da realidade.
Herberth Marçal - Médico ginecologista e obstetra