25/10/2018

CRM-PR realiza cerimônia de entrega de carteiras a 24 médicos

A venezuelana Milagros Magrini é um dos profissionais que obteve o registro; ela relata um pouco de sua trajetória de desafios, sobretudo em seu país de origem e, depois, no Mais Médicos e para ser aprovada no Revalida

Médicos de várias universidades paranaenses receberam sua carteira profissional na tarde desta quinta-feira (25/10), em reunião ética realizada na sede do Conselho Regional de Medicina do Paraná, em Curitiba. Ao todo, 24 profissionais compareceram à cerimônia, que foi conduzida pelo secretário-geral, Luiz Ernesto Pujol, e pelo presidente do CRM-PR, Roberto Issamu Yosida.

clique para ampliarclique para ampliarO Dr. Luiz Ernesto Pujol falou da importância da participação política e postura ética dos médicos (Foto: CRM-PR)

O Dr. Pujol deu início à solenidade parabenizando os presentes pela formatura e o início de carreira na “melhor profissão do mundo” - como ele costuma se referir à Medicina. Ele também falou sobre a responsabilidade do médico em ser um exemplo ético e moral para a sociedade, visto que a população deposita grande confiança nesses profissionais. Além disso, ele destacou os esforços do CRM-PR, Associação Médica do Paraná e Instituto Brasil de Medicina em contribuir para a criação de uma frente parlamentar de Medicina que defenda no Congresso Nacional pautas relevantes para a melhoria da saúde pública e assegure os direitos da classe médica.

Ao final de sua fala, ele ressaltou a importância de não perder o afeto, de ouvir e se importar de fato com o paciente. “Isso às vezes faz com que a grande maioria das doenças se cure sem uma gota de remédio, só na conversa e na demonstração de apoio”, disse. “Para além da técnica, temos que olhar para o doente como um sujeito igual a nós”. Por fim, parabenizou mais uma vez os presentes e deixou um conselho e apelo à humildade: “Vocês vão continuar eternamente a aprender Medicina, a gente nunca sabe tudo, a gente nunca está completo”.

clique para ampliarclique para ampliarO presidente do CRM-PR, Roberto Issamu Yosida, apresentou dados sobre o projeto de Educação Médica Continuada (Foto: CRM-PR)

Em seguida, o Dr. Roberto Issamu Yosida deu recomendações éticas aos novos médicos e explicou o funcionamento do CRM-PR, destacando as funções educativa, cartorial, fiscalizatória e judicante do Conselho. Ele apresentou dados relativos ao projeto de Educação Médica Continuada - que desde 2011 já teve quase 60 mil participantes e promoveu 581 eventos - relacionando o sucesso da iniciativa à queda constante na abertura de sindicâncias e processos éticos contra médicos nos anos recentes. “A educação aliada à fiscalização reduz o número de denúncias”, afirmou.

Para exemplificar como o CRM age em relação às suas funções fiscalizatórias e judicantes, foram exibidas algumas reportagens recentes, uma delas sobre a interdição ética que o Conselho realizou na maternidade Victor Ferreira do Amaral em junho deste ano. “Nós fiscalizamos para que vocês tenham condições técnicas de exercer a Medicina digna e eticamente”, disse.

Antes de chamar ao palco duas médicas presentes para a entrega simbólica dos documentos, ele também falou sobre a importância de preencher o prontuário médico corretamente e manter uma boa comunicação com o paciente. “Muitos dos nossos problemas nascem da falta de comunicação”, concluiu.

Trajetória de luta e dedicação

Nascida em Punto Fijo (Venezuela), Milagros de Los Angeles Mavo Magrini (CRM-PR 40.594) sabia desde cedo que queria cursar Medicina. Ela conta que nasceu prematura e cresceu basicamente em idas e vindas ao hospital. Esse contato constante com médicos e seu ambiente de trabalho fez com que crescesse sua admiração pela profissão. Somou a isso a vontade que tinha de ajudar as pessoas e pronto, estava decidida. “Se você não tem esse sentimento de querer melhorar a vida do outro, você não consegue seguir nessa carreira”, afirma. Ela estudou em Coro, capital de seu estado, e com 22 anos já estava formada.

clique para ampliarclique para ampliarDepois de três anos, a venezuelana Milagros Magrini conseguiu seu CRM (Foto: CRM-PR)

Mal sabia que o período de maior aprendizado viria ao sair da universidade, quando por dois anos ela atendeu comunidades indígenas no interior da Venezuela. O foco de seu trabalho eram sobretudo as emergências pediátricas. Ela conta que as dificuldades eram muitas, primeiro pela dificuldade de acesso e segundo pelos entraves na comunicação com os pacientes: poucos falavam espanhol, sendo que a maioria usava os dialetos tradicionais locais.

Milagros relembra esses anos como um momento de sensibilização em relação ao trabalho como médica. Ela conta de uma vez em que era 6h30 da manhã e, faltando meia hora para terminar seu plantão, chegou uma mulher com um bebê desnutrido nos braços. A criança estava com diarreia há 15 dias e acabou não resistindo: 30 minutos antes de conseguir ser atendida, ela faleceu. “A mãe estava viajando desde o dia anterior, precisou de carona para chegar até o posto”, recorda. “Eu só chorei aquele dia, porque você saber que podia até ter ajudado ou salvado aquela criança se ela tivesse chegado antes... É muito difícil lidar com isso”.

Após esse período ela se mudou para Caracas para fazer residência em pediatria, mas devido à crise em seu país, interrompeu a formação e veio ao Brasil pelo programa Mais Médicos. “Era uma garantia de um trabalho seguro, mesmo não sendo exatamente na área que eu queria”, diz. Ela chegou em maio de 2014, no ano seguinte fez o Revalida e agora, após vários trâmites para regularizar sua situação, conseguiu seu CRM. Os planos? Continuar no programa Mais Médicos e seguir na pediatria, área na qual encontrou sua vocação.

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