14/04/2007
CRM-PR promove debate sobre dependência química entre médicos
Evento reuniu mais de 50 pessoas no auditório do Conselho em Curitiba e foi transmitido por videoconferência à Regional
de Maringá
Com o objetivo de criar um programa de estímulo ao médico a cuidar de sua própria saúde e auxiliar aqueles que necessitam
de reabilitação, especialmente os dependentes químicos, o Conselho de Medicina do Paraná, através da Comissão de Saúde do
Médico trouxe à Curitiba um dos mais reconhecidos e renomados especialistas em Saúde do Médico do país, o psiquiatra e professor
Ronaldo Laranjeira.
Durante dois dias (13 e 14 de abril), ele ministrou palestra apresentando a Rede de Apoio ao Médico
dependente químico, mantida pelo Conselho de Medicina do Estado de São Paulo, e, junto com os mais de 50 participantes, analisou
casos clínicos. Dr. Laranjeira teve efetiva participação no projeto de reabilitação de médicos dependentes de drogas em São
Paulo, instaurado pela Câmara Técnica de Saúde Mental do Cremesp. O psiquiatra vem há mais de quatro anos pesquisando o perfil
clínico e demográfico dos profissionais em SP.
Para o coordenador da Comissão de Saúde do Médico do Paraná, Marco Antônio Bessa, a atenção ao médico dependente químico
que necessita de tratamento realizada em SP está servindo de subsídio à estratégia a ser implementada no Paraná.
Na ocasião do evento, ele apresentou os dados da pesquisa realizada recentemente no Estado. Foi feita uma amostragem com
112 hospitais e clínicas paranaenses de um universo de mais de 2 mil e em 79,5% das instituições existem médicos usuários
ou dependentes de tabaco, bebidas alcoólicas, calmantes ou outras substâncias químicas. De acordo com a pesquisa, as drogas
lícitas, álcool e tabaco, são as mais consumidas, muitas vezes em associação. Em seguida vem os anabolizantes, calmantes,
anfetaminas, opióides, maconha, cocaína e crack. A pesquisa apontou também que ampla maioria dos hospitais e clínicas não
conta com nenhum tipo de programa de prevenção ou tratamento. "A dependência química ainda é pouco identificada, inclusive
entre a classe médica", afirma o psiquiatra.
Após apresentação do relatório da pesquisa sobre o perfil clínico e demográfico dos profissionais do Estado, Ronaldo Laranjeira
fez um comparativo com os resultados do projeto de reabilitação de médicos dependentes do CREMESP. "A situação não ocorre
só no Paraná", afirma. De acordo com levantamento mais atual realizado em parceira pelo Cremesp e a Unidade de Pesquisa em
Álcool de Drogas do Departamento da Escola Paulista de Medicina, dos 247 médicos que procuraram a Rede de Apoio nestes quase
cinco anos de existência do programa, mais de 60% apresentaram problemas no exercício da profissão em decorrência da dependência.
"Os transtornos mentais são bem mais prevalentes em nossa categoria do que a gente gostaria", completa. Além dos fatores que
permeiam a dependência na população geral, tais como genética, história familiar e experiências prévias, os médicos enfrentam
ainda situações de fácil contato com diversas drogas. Também são apontadas como principais causas da dependência a tensão
constante, o desgaste emocional e a carga horária elevada de trabalho.
No entanto, cerca de 70 a 80% dos médicos que iniciam o tratamento se recuperam. "É isso que queremos enfatizar: essa
boa resposta do médico. Em geral, no tratamento com dependentes químicos, a taxa máxima de recuperação chega a 40%. Com os
médicos é diferente", relata. De acordo com o psiquiatra, a resposta positiva dos médicos ao tratamento tem relação com a
estabilidade profissional e o apoio familiar.
Conforme o levantamento, 30% dos médicos buscaram tratamento voluntariamente, enquanto que 53% o fizeram por pressão da
família e 16% por pressão dos colegas. "Nossa experiência tem mostrado que os médicos levam em média 7,5 anos para buscar
ajuda. É o tempo semelhante ao da população geral, mas chama a atenção que o conhecimento médico não tenha privilegiado a
busca de auxílio", afirma. De acordo com ele, a busca voluntária tende a aumentar quando são fornecidas possibilidades tratamento
sigiloso. "Tivemos um caso de residente que após duas semanas de uso de drogas, buscou ajuda na Rede", afirma. "Isso para
nós é um grande avanço e sinal de que o programa está verdadeiramente ajudando o profissional que precisa", completa.
Laranjeira ressalta ainda que apenas 13% dos casos foram notificados ao órgão fiscalizador. Uma das hipóteses para a subnotificação
estaria no constrangimento de colegas em informar ao CRM sobre o comportamento do médico.
Saúde do Médico
Uma das principais preocupações da Comissão de Saúde do Médico reside no elevado índice de profissionais dependentes de
drogas - lícitas ou não -, com reflexo negativo no exercício da atividade . Pesquisa feita junto a hospitais e clínicas paranaenses
vem atestar a gravidade do problema. Os dados estatísticos começaram a ser analisados pelos conselheiros que integram a Comissão,
em março, deliberando-se pela adoção imediata de iniciativas voltadas à prevenção e também de recuperação, que tende a envolver
não só o Conselho de Medicina, mas outras instituições que tenham relação com a atividade do profissional, como as empresas
empregadoras e as cooperativas médicas.
Para 2007, o CRM-PR planeja uma série de atividades educativas e preventivas, incluindo a realização de palestras e o
uso de todos os meios de comunicação do Conselho - com destaque para a internet, já que o Portal vai abrigar espaço específico
para artigos de especialistas e dicas para o médico minimizar as situações de risco e elevar o seu bem-estar e qualidade de
vida.