26/11/2017
Dr. Riolando Fransolino (CRM 553) foi o fundador da Santa Casa, que exigiu 13 anos de obras e até projeto político
O Conselho Regional de Medicina do Paraná prestou homenagem ao médico Riolando Fransolino (CRM 553), conferindo-lhe o Diploma de Mérito Ético e o cristal simbolizando a Medicina na passagem de seus 66 anos de graduação pela Universidade Federal do Paraná. Filho de imigrantes italianos, durante muitos anos ele foi o único médico de Colombo, onde idealizou a construção da Santa Casa. As obras do hospital se arrastaram por 13 anos, de 1959 a 1972, quando conseguiu realizar a inauguração depois de ter sido eleito prefeito do município metropolitano, em projeto político centrado na melhoria das condições de atenção à saúde da população.
A entrega das comendas ocorreu na última quinta-feira (23 de novembro), quando o médico, de 91 anos de idade, esteve em visita à sede do CRM-PR, acompanhado da filha Marise Fransolino Wiggins, desenhista industrial e ceramista que reside há mais de 30 anos em Atlanta, nos Estados Unidos. O Dr. Riolando foi recepcionado pelo presidente do Conselho, Wilmar Mendonça Guimarães, e pelo jornalista Hernani Vieira, do Departamento de Comunicação. A homenagem tinha sido homologada pela diretoria da autarquia em reconhecimento ao histórico de ético de quase 50 anos de exercício pleno da atividade médica. Ele se aposentou em 1998, logo após completar 72 anos de idade.
Atividade médica intensa
Nascido no município paulista de Ipuã, antigo Santana dos Olhos d’Água e o caçula dos 15 filhos dos imigrantes Guerino e Genebra Fransolino (originalmente Franzolin), Riolando decidiu estudar em Curitiba diante das poucas opções em Medicina existentes no final da primeira metade do século passado. Desde criança queria ser médico e foi incentivado pela família depois de quase ter seguido a Odontologia, em estudos que faria em Ribeirão Preto. Passou no primeiro vestibular que fez na Federal do Paraná, ficando exatamente em centésimo lugar entre as 150 vagas ofertadas.
Formado em 1951, foi contemporâneo de médicos como os Drs. Adyr Soares Mulinari, Elias José Jounes Hanna, Francisco Boscardim Netto, Francisco de Paula Soares Filho, Ivan Beira Fontoura e José Maria de Araújo Perpétuo, os dois últimos distinguidos, pelo CRM-PR, com a Medalha de Lucas – Tributo ao Mérito Médico. Dedicou-se à profissão como sanitarista e cirurgião, tendo sido o responsável pelas primeiras cirurgias no Hospital Pilar, inaugurado em junho de 1964. Com título de leprologista, passou em concurso da saúde pública do Estado, sendo nomeado para Colombo, município metropolitano que se constituía na maior colônia de italianos do Paraná, mas ainda de frágil desenvolvimento.
Residindo na Capital, no começo fazia dois dias de atendimento em Colombo. Como único médico da cidade, aos poucos a dedicação era diária pela demanda crescente. Com as dificuldades para encaminhamento de pacientes para os hospitais de Curitiba, em 1959 iniciou o projeto da construção da Santa Casa, contando para isso com o engajamento da Igreja Católica e dos descendentes de imigrantes. Recorda o Dr. Riolando que, apesar de todo esforço da comunidade, questões políticas impediam a celeridade das obras. Mesmo reticente à participação política, disse que primeiro se candidatou a vereador e, ao término do mandato, aceitou o desafio de pleitear a prefeitura e, eleito, já participou da inauguração do hospital, no Dia do Médico (18 de outubro) de 1972. Concluída a missão frente à chefia do executivo ao término de 1977, diz que encerrou também sua carreira política, abdicando de convites como de se candidatar ao legislativo estadual.
Além de contribuir para os indicativos de saúde do município metropolitano, o médico também teve importante participação no desenvolvimento social e econômico. Usou a experiência da exploração de cal e calcário em sua região de origem, no interior de São Paulo, para implementar em Colombo a primeira indústria do gênero no Estado, a Itacolombo Indústria de Minérios. A sociedade constituída com empresários locais, sendo ele majoritário, permitiu grande impulso à economia, tanto na geração de empregos como de renda, com a chegada de outros ramos industriais, como a Eternit. Relembra o médico que, em determinado período, os impostos pagos pelo segmento representava quase a metade de toda arrecadação da prefeitura.
Dr. Riolando conta que foi intenso no exercício da Medicina, atuando em Colombo e em Curitiba, até que se aposentou pelo Estado e, em seguida, achou que começava a perder a destreza das mãos nas cirurgias e era hora de parar de vez. Aos poucos, até os atendimentos que fazia num consultório junto à sua casa acabaram cessando. Acha difícil fazer comparativo entre os profissionais de sua época e de hoje, reconhecendo que antes havia muita renúncia à vida social e familiar face a intensidade profissional que se exigia. Nenhum dos três filhos quis seguir a Medicina, o mesmo ocorrendo com os netos.
Mantêm-se ativo com viagens e passeios e, com carteira
de habilitação em dia, continua dirigindo, como o fez para chegar com a filha até o CRM. A sede ele ainda
não conhecia, e mereceu elogios por suas características arquitetônicas harmoniosas com aspectos mitológicos
da Medicina, como a Constelação de Ophiucus reproduzida em trabalhos artísticos na cúpula
e no piso do S1. O médico também se declarou feliz com a retomada das atividades da Santa Casa, em etapas, depois
de passar pela interdição ética do Conselho de Medicina, em janeiro de 2012, como consequência
da degradação dos serviços, sobretudo por falta de investimentos. Entre as 10 cidades mais populosas
do Paraná, disse que a população merece continuar contando com acesso a atendimento de qualidade como
almejado pela gerações precedentes.
De animadas histórias, rememorou a de quando se
apresentou à jovem que paquerava na região da faculdade e que viria a se transformar em sua mulher. Ela se chamava
Iolanda e, ao dizer seu nome, o então estudante de Medicina teve de provar com os documentos de que não se tratava
de um deboche e sim curiosa coincidência. Foram quatro décadas de convivência e três filhos: Riolando
Junior, Marise e Clarice, piscóloga falecida em 2003. D. Iolanda Moro Manfredini Fransolino, professora de nível
médio, faleceu em junho de 1989.