23/06/2008
No ano em que
o Conselho Regional de Medicina do Paraná completa cinqüenta anos, a entidade une-se aos festejos comemorativos do centenário
da imigração japonesa ao Brasil. São inegáveis as contribuições dos imigrantes e seus descendentes para a sociedade brasileira,
especialmente os que se dedicaram com maestria à Medicina. Atualmente, o Paraná conta com aproximadamente 2 mil médicos de
origem japonesa, com significativa parcela dedicando-se às especialidades de pediatria e de ginecologia e obstetrícia. Para
homenagear este povo que tanto beneficiou e beneficia o Brasil, o CRM-PR está organizando atividades científico-culturais
para reconstituir a história da medicina paranaense escrita por pioneiros médicos japoneses e descendentes.
Uma delas é apoiar a exposição "Arte Nikkei no Centenário da Imigração Japonesa ao Brasil", que ocorrerá de julho (2)
a setembro (7) no Memorial de Curitiba. Na seqüência, em 15 de setembro, o Conselho de Medicina celebrará em sua sede em
Curitiba, a Casa do Médico, a especial Solenidade Alusiva ao Centenário Nacional da Imigração Japonesa. A festividade terá
em destaque apresentação especial do grupo Wakaba de taiko (tambor japonês) e a vernissage da segunda etapa da exposição
"Arte Nikkei no Centenário da Imigração Japonesa ao Brasil", que ficará aberta à visitação pública, até o dia 24 de outubro,
no Espaço Cultural do CRM-PR.
Exposição
A mostra pretende enaltecer o arrojo dos primeiros imigrantes não apenas repassando as páginas da história, mas também
por meio da conquista da modernidade pela nova geração "nikkei". Uma conquista que prova a plena integração e irmanação
da comunidade "nikkei" à sociedade brasileira, bem como o valor de uma cultura caracterizada pelo esforço individual inserido
no coletivo, princípios que norteiam a Medicina e o exercício ético da profissão.
A exposição traz obras de quinze artistas nipo-brasileiros da terceira e quarta gerações e retrata a convivência entre
japoneses, descendentes e brasileiros, imigrantes de outras etnias e descendentes na terra do "em se plantando tudo dá".
A mostra é uma realização da Associação Cultural e Beneficente Nipo-Brasileira de Curitiba e tem o apoio do Conselho Regional
de Medicina do Estado do Paraná e da Fundação Cultural de Curitiba.
As muitas faces da arte nikkei
A espiritualidade e o apuro formal são marcantes nas obras dos irmãos Shigueo e Yumie Murakami. Na fotografia e na
cerâmica repercutem os ecos da filosofia zen-budista. Similar repercussão é sentida nos objetos de Celso Setogutte, para
quem o espaço tem função importante, assim como a busca da forma exata. A delicadeza e paciência orientais transparecem na
escultura de Renata Otsuka. Embora seu tema seja cristão, a forma é definitivamente oriental.
Outros trazem a marca da dupla identidade, como Eliza Maruyama. A artista propõe um tema lúdico ao mesmo tempo ligado
à tradição japonesa - os koinobori, as carpas do Festival dos Meninos. Claudine Watanabe faz uma releitura do ready made
numa versão pós-moderna com toques japoneses.
Na linha do registro histórico, Marcos Kimura presta homenagem aos pioneiros imigrantes japoneses que desembarcaram
em Florianópolis, com elementos da paisagem local, compondo um antropofagismo visual. Para Chuniti Kawamura o forte é o
flagrante cotidiano, influenciado pelo trabalho de fotojornalismo.
Os temas da fluidez e mobilidade atraem Júlia Ishida, Cláudio Seto e Roger Noguti. Julia questiona a mobilidade e
a imobilidade, num jogo conceitual entre opostos em que não existem contrários, e sim complementos. Cláudio Seto volta-se
ao abstracionismo, à maneira de Mabe, sem o rigor da linha japonesa. Roger faz pesquisas com o tema da água dentro do ambiente
da fotografia digital.
No quarto grupo detectamos traços característicos do ocidente. O cotidiano doméstico é o tema de Adelina Nishimura
e Akiko Mileo. Para a primeira, a rotina pode ser plástica, mas tem uma conclusão perversa. Akiko retoma tradições, não
de antepassados míticos, mas da infância, em que os elementos marcantes são os da religiosidade.
As fotografias de cenas urbanas com interferência da arte pop de Sandra Hiromoto poderiam levar o espectador a imaginar
ícones conhecidos da arte de massa. Porém através de sua paleta de cores, a artista traz um efeito de familiaridade e afetividade,
ao retratar as grandes cidades. Já Carol Chuman, busca o efeito oposto, o da estranheza. Do interior de um vaso brota a deterioração,
ou quem sabe, a possibilidade de vida.
Tradição ou ruptura
O resultado de uma visita à Arte Nikkei no Centenário é a sensação de evolução ou revolução, de relacionamento íntimo
com a cultura dos antepassados, mas também de ousadia. Tradição ou ruptura, os nikkei não são japoneses, ao contrário do
imaginário coletivo. E vivem esta alternância e complementariedade, entre e/ou, opostos e compostos, reação e interação.
A mostra ficará aberta até o dia 7 de setembro no Memorial de Curitiba. A seguir, será transportada integralmente
para o Espaço Cultural do CRM-PR, com abertura prevista para o dia 15 de setembro.