A publicação foi apresentada durante o I Fórum de Medicina Aeroespacial, palco de debates sobre problemas que afetam a
saúde nos voos
"Doutor, Posso Viajar de Avião? - Cartilha de Medicina Aeroespacial" é o título da publicação lançada no dia 2 de agosto,
durante o I Fórum Nacional de Medicina Aeroespacial, organizado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), em Brasília. O documento,
elaborado por meio de uma parceria entre o CFM e a Faculdade de Medicina da Santa Casa de São Paulo, traz recomendações a
médicos e pacientes sobre medidas que podem ser adotadas para garantir um voo seguro em casos nos quais o passageiro apresenta
sintomas de alguns problemas de saúde.
Esse foi um dos destaques do encontro, que aprofundou o debate em torno de questões importantes para a segurança de passageiros
e tripulantes. Entre os temas abordados nas mesas estavam a falta de qualificação de médicos, a fragilidade das regras para
o transporte aeromédico de pacientes e a inexistência de dados estatísticos confiáveis sobre o número de emergências médicas
registradas em situação de voo. Cerca de 150 especialistas e interessados no assunto acompanharam as discussões, juntamente
com convidados do Ministério da Saúde, da Agência Nacional da Aviação Civil (Anac) e de representantes de sociedades médicas.
"Queremos suscitar o debate para que passageiros e tripulantes brasileiros recebam a atenção e os cuidados merecidos.
O Conselho Federal de Medicina tem a preocupação de assegurar à sociedade acesso aos serviços qualificados. A demanda na área
já se mostra importante e exige posições sérias e consequentes", aponta um dos organizadores do fórum, conselheiro Frederico
Henrique de Melo, que também é coordenador da Câmara Técnica do CFM que se dedica ao tema.
Publicação
A cartilha "Doutor, Posso Viajar de Avião?", cuja tiragem inicial é de 5 mil exemplares, será distribuída entre entidades
médicas, profissionais interessados, escolas de medicina e empresas de aviação. Também será possível acessar o documento pela
internet, no
href="http://www.portalmedico.org.br" target="_blank">site do CFM. "É importante mostrar, sobretudo aos médicos,
o peso da orientação antes da viagem. É preciso que o profissional esteja ciente das recomendações que devem ser feitas a
cada um dos passageiros/pacientes, segundo seu quadro clínico", explicou Frederico Melo. Para ele, ao fazer as orientações
em seu consultório, o profissional cumpre com o importante papel de agente de prevenção e de educação em saúde.
Entre os itens que constam da cartilha estão orientações para o transporte de gestantes, de crianças, de portadores de
doenças respiratórias, cardiovasculares e de transtornos psiquiátricos. Para os passageiros, o conselheiro do CFM acrescenta:
apesar das recomendações serem simples, não pode prescindir da opinião de um médico se houver dúvidas.
Algumas recomendações que integram a cartilha aos médicos, passageiros e tripulantes da aviação
Doenças respiratórias
- Viagens aéreas são contraindicadas para passageiros e tripulantes com infecções ativas (pneumonia e sinusite) porque
essas doenças podem alterar as respostas fisiológicas humanas habituais ao voo.
- Passageiros e tripulantes com infecções pulmonares contagiosas (tuberculose e pneumonia) não devem embarcar, pois pode
ocorrer agravamento dos sintomas, complicações durante e depois do voo, além do risco de disseminação da doença entre os outros
passageiros.
Doenças cardiovasculares
Os pacientes e tripulantes acometidos de complicações cardiovasculares devem ser orientados a adiar os voos durante o
período de estabilização e recuperação. De acordo com as orientações da Sociedade de Medicina Aeroespacial, os prazos a serem
observados são os seguintes (recomenda-se que o paciente seja avaliado por seu médico assistente antes de embarcar, pois os
mesmos podem ser ampliados ou reduzidos, de acordo com o caso):
- Infarto não complicado: aguardar duas a três semanas.
- Infarto complicado: aguardar seis semanas.
- Angina instável: não deve voar.
- Insuficiência cardíaca grave e descompensada: não deve voar.
- Insuficiência cardíaca moderada, verificar com o medico se há necessidade de utilização de oxigênio durante o voo.
- Revascularização cardíaca: aguardar duas semanas.
- Taquicardia ventricular ou supra ventricular não controlada: não voar.
- Marca-passos e desfibriladores implantáveis: não há contraindicações.
Nos casos de Acidente Vascular Cerebral deve-se levar em consideração o estado geral do passageiro e a extensão da doença.
Recomenda-se observar os prazos de recuperação abaixo antes do embarque:
- AVC isquêmico pequeno: aguardar 4 a 5 dias.
- AVC em progressão: aguardar 7 dias.
- AVC hemorrágico não operado: aguardar 7 dias.
- AVC hemorrágico operado: aguardar 14 dias.
Pós-operatório e pacientes em recuperação
Pós-operatório torácico:
- Casos de pneumectomia (retirada do pulmão) ou lobectomia pulmonar recente (retirada parcial do pulmão): recomenda-se
uma avaliação médica pré-voo, com determinação da normalidade da função respiratória, principalmente no que diz respeito à
oxigenação arterial.
- Casos de pneumotórax: é uma contraindicação absoluta. Deve-se esperar de duas a três semanas após drenagem de tórax
e confirmar a remissão pelos raios-X
Pós-operatório neurocirúrgico:
- Após trauma cranioencefálico ou qualquer procedimento neurocirúrgico, pode ocorrer aumento da pressão intracraniana
durante o voo. Aguardar o tempo necessário até a confirmação da melhora do referido quadro compressivo por tomografia de crânio.
Cirurgia abdominal:
- Contraindicado o voo por duas semanas, em média. Deve-se aguardar a recuperação do trânsito habitual do paciente, pois
a presença de ar em alças, sem eliminação adequada, no pós-operatório de cirurgias recentes, pode determinar a sua expansão
excessiva em voo.
Gesso e fraturas:
- Fraturas instáveis ou não tratadas são contraindicadas para voo. Importante: considerando que uma pequena quantidade
de ar poderá ficar retida no gesso, aqueles feitos entre 24-48 horas antes da viagem, devem ser bi-valvulados para evitar
a compressão do membro afetado por expansão normal do ar na cabine durante o voo.
Transtornos psiquiátricos
- Distúrbios psiquiátricos: pessoas com transtornos psiquiátricos cujo comportamento seja imprevisível, agressivo ou não
seguro, não devem voar. Já aqueles com distúrbios psicóticos estáveis, em uso regular de medicamentos e acompanhados, podem
viajar.
Gestantes
Recomenda-se que os voos sejam precedidos de uma consulta ao médico. De forma geral as seguintes medidas devem ser observadas:
- As mulheres que apresentarem dores ou sangramento antes do embarque, não devem fazê-lo.
- Evitar viagens longas, principalmente em casos de incompetência ístmo-cervical, atividade uterina aumentada, ou partos
anteriores prematuros.
Crianças
- No caso de recém-nascido, é prudente que se espere pelo menos uma ou duas semanas de vida até a viagem. Isso ajuda a
determinar, com maior certeza, a ausência de doenças, congênitas ou não, que possam prejudicar a criança no voo.
Fonte: CFM