12/03/2009
Brasileiro consome o dobro do sódio indicado pela OMS
Excesso pode aumentar pressão arterial e levar a doença cardiovascular e renal.
Segundo pesquisa da Faculdade de Saúde Pública da USP, consumo exagerado não depende da região e da faixa
de renda da família
O consumo diário de sódio pela população brasileira está duas vezes e meia acima do limite preconizado pela
OMS (Organização Mundial da Saúde). Diferentemente de países desenvolvidos -em que a principal fonte de sódio são os alimentos
industrializados-, o vilão da mesa dos brasileiros é o tempero adicionado à comida, o que inclui o sal de cozinha propriamente
dito e condimentos feitos à base de sal, que correspondem a 76% de todo o sódio consumido.
Os dados são de uma pesquisa realizada na Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo e publicada
neste mês na "Revista de Saúde Pública". Os pesquisadores apontam que a quantidade diária de sódio disponível para consumo
é de 4,5 g por pessoa, sendo que a ingestão máxima recomendada pela OMS é de 2 g.
A pesquisa também concluiu que o consumo exagerado não depende da faixa de renda das famílias analisadas e
da região do país em que elas moram.
Para chegar a esse valor estimado, os pesquisadores usaram como referência os dados da última POF (Pesquisa
de Orçamentos Familiares), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística em 2003. Foram analisados 969.989
registros de aquisição de alimentos em uma amostra de 48.470 domicílios.
O endocrinologista Flávio Sarno, especialista em nutrição em saúde pública e autor do estudo, explica que
os dados da pesquisa são estimados. "Calcula-se a quantidade de sódio disponível para consumo, de acordo com os alimentos
comprados pela família na última semana. Para isso, transforma-se a quantidade disponível de sódio em cada alimento em valor
energético [Kcal] e em gramas, para depois dividir pelo número de pessoas", explica Sarno. A base para conversão dos alimentos
foi a Taco (Tabela Brasileira de Composição dos Alimentos), desenvolvida pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
Os riscos
O sódio está presente naturalmente em vários alimentos e o seu consumo moderado é necessário para o bom funcionamento
do organismo. É ele que mantém o volume de líquidos no corpo, evitando a desidratação, por exemplo.
Mas a ingestão em excesso pode provocar problemas de saúde e, o pior, de maneira silenciosa: os efeitos no
organismo não são imediatos e as pessoas podem demorar anos para apresentar sintomas.
"Se o sódio estiver em excesso no organismo, os rins não conseguirão eliminá-lo. Assim, ele vai provocar retenção
de água e aumentar a pressão arterial, causando problemas cardiovasculares e renais. Ele não causa efeitos imediatos, mas
traz problemas a longo prazo", diz João César Castro Soares, endocrinologista e nutrólogo da Unifesp (Universidade Federal
de São Paulo).
De acordo com Soares, o sódio normalmente é adicionado aos alimentos industrializados, pois ele tem efeito
bactericida, melhora o sabor e ainda ajuda a evitar que a comida se estrague.
"A adição de sódio nos alimentos está muito relacionada com o paladar dos brasileiros, pois ajuda a acentuar
o sabor. Dois pedaços de pizza congelada, por exemplo, contêm a quantidade de sódio suficiente para um dia todo", diz Soares.
Sarno diz ainda que a quantidade diária de sódio na alimentação de pessoas hipertensas ou com problemas renais
deve ser em torno da metade preconizada pela OMS. "O consumo recomendado é para pessoas saudáveis e não leva em consideração
problemas de saúde associados. Assim, eventualmente, essa restrição do consumo deve ser ainda mais rigorosa."
Reduzir o sal
Como o sódio está presente naturalmente na composição dos alimentos, uma das formas de reduzir o consumo é
evitar alimentos industrializados e não salgar a comida.
"Uma forma saudável de temperar os alimentos seria utilizar ervas frescas ou secas, cebola, cebolinha, salsinha",
sugere a nutricionista Renata Padovani, do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Alimentação da Unicamp e membro da equipe técnica
da Taco.
Antidepressivo natural
Pesquisadores da Universidade de Iowa sugerem que o sal de cozinha pode ser um antidepressivo natural. Em
estudo feito com ratos, eles concluíram que aqueles que tinham deficiência de sal paravam de realizar atividades prazerosas.
Eles acreditam que o déficit de sal pode estar associado à perda de prazer e à depressão.
Fonte: F. de São Paulo