26/06/2007
Brasil tem 860 mil usuários de cocaína, diz ONU
O Brasil tem cerca de 860 mil usuários de cocaína, estima um documento da Organização das Nações Unidas (ONU) divulgado
nesta terça-feira.
Segundo o relatório anual do Escritório das Nações Unidas para Drogas e Crimes (UNODC), 0,7% da população brasileira entre
15 e 64 anos utilizava cocaína em 2005.
A estatística representaria um aumento de 75% em relação ao número de quatro anos antes, mas o UNODC esclareceu que o
aumento se deveu a uma mudança na metodologia do cálculo.
No mundo, 14 milhões de pessoas consomem cocaína, disse o estudo.
Um aumento no número de usuários no Brasil desafiaria os esforços de combate ao abuso de cocaína no país, onde as apreensões
vêm crescendo ano a ano.
O relatório da ONU afirma que em 2005 o Brasil apreendeu 16 toneladas de cocaína - cerca de 6% a mais que no ano anterior,
de acordo com os números da Polícia Federal.
É pouco se comparado ao total apreendido na Colômbia (217 t), o principal produtor mundial, ou nos Estados Unidos (175
t), o principal consumidor mundial, e mesmo em relação ao que se apreende em países vizinhos da Colômbia, como Equador (43
t) e Venezuela (59 t).
Mas a ONU destacou que o Brasil está entre os países mais citados como via de tráfico de cocaína para o oeste da África
e a Europa. Autoridades da Guiné estimam, por exemplo, que 60% de sua cocaína provêm do Brasil.
O diretor-executivo do UNODC, Antônio Maria da Costa, procurou ressaltar o lado positivo dos esforços para combater o
uso de drogas no mundo.
"Para quase todo tipo de droga ilícita - cocaína, heroína, cannabis e estimulantes como anfetaminas - há sinais de estabilidade,
seja em termos de cultivo, produção ou abuso", disse ele, em comunicado que acompanha o relatório.
Entretanto, o documento afirmou que o tráfico de cocaína se transformou "em um problema global". Apreensões já são realizadas
em 80% dos países do mundo, sugerindo que o consumo se alastrou por todo o planeta.
Além disso, o estudo confirmou outros, feitos anteriormente, que demonstraram que a produção de droga permaneceu alta
apesar da diminuição da área cultivada.
Segundo o relatório anual do UNODC, a área de cultivo da folha de coca nos países andinos caiu 29% entre 2000 e 2006,
para 157 mil hectares.
Entretanto, o potencial de produção de cocaína da região aumentou. Apenas para a Colômbia, o potencial foi estimado em
650 toneladas.
Em março deste ano, a Junta Internacional de Fiscalização de Entorpecentes (Jife), da ONU, estimou que a produção mundial
de cocaína poderia alcançar 800 ou até mil toneladas. Apenas um quarto disto é apreendido, disse nesta terça-feira o UNODC.
Outro problema destacado pela ONU em relação às drogas foi o crime organizado. Para a entidade, o combate às gangues que
traficam cocaína tem dado mais frutos do que a repressão ao tráfico de ópio, extraído da papoula, matéria-prima da heroína.
No Afeganistão, que fornece a papoula para 92% da heroína produzida no mundo, a produção de ópio cresceu 50% em 2006,
elevando a produção mundial de heroína para um recorde de 606 toneladas, disse o UNODC.
"Os dois exemplos destacam dois extremos de um espectro: de um lado, grupos altamente organizados atuando no envio de
milhões de dólares de cocaína da Colômbia para os Estados Unidos; de outro, muitos atores desorganizados que, respondendo
a incentivos de mercado, levam a heroína do Afeganistão para a Rússia", descreveu o UNODC.
"Entretanto, não se pode dizer que as duas regiões estão convergindo: o tráfico de cocaína tem se tornado menos organizado
desde os tempos dos cartéis de Cali e Medelin, enquanto o comércio de heroína no Afeganistão cresce e se torna mais organizado."
Fonte: BBC Brasil