22/03/2011
Avançam preparativos para o protesto nacional dos médicos
160 mil profissionais vão suspender consultas e exames como forma de alerta contra os baixos honorários e a interferência
das operadoras na autonomia de trabalho
Os médicos credenciados junto às operadoras e aos planos de saúde se mobilizam para suspender o atendimento no dia 7 de
abril, em todo o país. Cerca de 160 mil profissionais atuam no setor. Em comum eles têm queixas quanto aos baixos honorários
praticados, a interferência das empresas na sua autonomia e a insuficiência da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS)
na regulação do diálogo entre os planos e os prestadores. A categoria exige ainda que as operadoras e a ANS efetivem a regularização
dos contratos com a inclusão de cláusulas de periodicidade e critérios de reajustes.
Nos estados, o alerta ganha cada vez mais força. Os coordenadores regionais de conselhos de medicina, de sindicatos e
associações médicas relatam a organização de manifestações públicas, passeatas, panfletagens e assembléias que marcarão as
atividades do dia 7 de abril. Em São Paulo, por exemplo, será realizada uma passeata rumo à Praça da Sé, onde a população
será esclarecida sobre o problema e a intransigência de certas empresas.
Outra estratégia em preparo envolve a veiculação de informes em rádios e jornais para orientar médicos e a sociedade sobre
os objetivos da paralisação. Com esse protesto nacional, as entidades médicas querem alertar a sociedade para os graves problemas
da área de saúde suplementar. Sem a solução da crise permanente, há o risco de queda na qualidade da assistência com descredenciamento
em massa de médicos insatisfeitos.
Em todos os segmentos, as queixas se repetem, apesar do bem estar das finanças das empresas do ramo. Em 2011, as 1060
operadoras de planos de saúde devem faturar mais de R$ 70 bilhões. Nos últimos sete anos, as empresas tiveram um incremento
de 129% em sua movimentação financeira, passando de R$ 28 bilhões para R$ 64,2 bilhões. No entanto, no mesmo período, o valor
da consulta subiu apenas 44%.
Sem prejuízos - Apesar da amplitude do movimento que deve interferir no dia-a-dia de consultórios e hospitais, a Associação
Médica Brasileira (AMB), o Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Federação Nacional dos Médicos (Fenam) - articuladores da
paralisação - garantem que o protesto não causará prejuízos para os cerca de 45 milhões de usuários do sistema de saúde suplementar.
Isso porque os atendimentos de urgência e emergência estão garantidos, sendo que apenas os procedimentos eletivos (consultas,
exames, etc) deverão ser transferidos para outra data.
Para os organizadores, a população deve ver na paralisação uma ferramenta de defesa dos seus próprios interesses, já que,
por meio dela, busca-se justamente a melhoria na oferta de serviços aos pacientes. Há relatos de que os problemas com as operadoras
de planos de saúde também atingem os usuários, que chegam a esperar até três meses para a marcação de uma consulta ou outros
procedimentos. Sem contar com os problemas causados pela glosa de procedimentos solicitados por parte de planos e de operadoras.
Pesquisa do Datafolha revela que 92% dos médicos credenciados reclamam que as operadoras interferem nos diagnósticos e
nos tratamentos dos pacientes. Hoje, muitos planos de saúde recusam procedimentos que só os médicos podem decidir se são ou
não necessários para os pacientes. Esses argumentos têm sido apresentados publicamente à sociedade por meio de uma carta aberta,
na qual são esclarecidos os riscos e os prejuízos à saúde causados pelo descaso das empresas.
Alem dos médicos, outros segmentos têm manifestado apoio à luta dessa categoria. Por exemplo, o Sindicato dos Hospitais,
Clínicas e Laboratórios do Estado de São Paulo (SINDHOSP) e a Federação dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios do Estado de
São Paulo (FEHOESP) se manifestaram favoravelmente ao protesto. Da mesma forma, as Sociedades de Ortopedia, Hematologia, de
Hemoterapia e a Febrasgo (Ginecologia e Obstetrícia), por exemplo, também recomendam aos seus filiados que participem ativamente
da mobilização.
Fonte: AMB