06/05/2011
Audiência pública debate crack e papel das comunidades terapêuticas
Crédito foto: Andressa Katriny - CMC
"Crack: uma pedra nas comunidades - A sociedade sofre!" foi o tema da audiência pública realizada nesta quinta-feira (05),
na Câmara Municipal de Curitiba (CMC). A atividade reuniu perto de 70 participantes, entre vereadores, profissionais da área
da saúde e do direito, e interessados pelo tema. O objetivo foi explicar o que é uma comunidade terapêutica, suas necessidades
e como contribuem na recuperação de dependentes químicos, principalmente dos envolvidos com crack.
O doutor em psiquiatria, especialista em dependência química, presidente da Sociedade Paranaense de Psiquiatria (SPP)
e conselheiro do Conselho Regional de Medicina do Paraná (CRM-PR), Marcos Antônio Bessa, abriu o debate, destacando que sem
investimentos não há como organizar um serviço de qualidade e um tratamento digno para a comunidade mais carente. "O dependente
químico é uma pessoa discriminada e marginalizada. Sofre da miséria moral, existencial e de falta de perspectiva. Uma criança
que usa crack não tem a menor perspectiva de vida. A média é de 16 anos de vida", enfatizou.
Ele defendeu a realização de campanhas que esclareçam a população sobre o que é a dependência química. "O dependente tem
uma alteração cerebral e é isto que faz ele modificar seu comportamento. Há uma alteração tão grave do sistema nervoso central
que ele não tem controle sobre suas ações", ressaltou. Na opinião do especialista, a proibição das propagandas de bebidas
alcoólicas é fundamental para desestimular o consumo. "A cerveja, por exemplo, é a droga que mais causa problemas no Brasil".
A professora doutora em Educação pela Universidade de São Paulo (USP), Araci Asinelli da Luz, falou sobre a visão do meio
acadêmico e científico em relação às drogas. Ela sugeriu que os vereadores contribuam fazendo um projeto de lei para criar
uma matéria sobre o combate às drogas no currículo das escolas. O teólogo e advogado Ronaldo Costa Reis, do Lar Hermon, discutiu
o resgate e a restauração do dependente químico. Para ele, é necessário trabalhar também com a família, que é quem vai receber
o dependente na volta do tratamento.
Comunidades terapêuticas
Em 1994, Frei Chico da Associação Casas do Servo Sofredor iniciou a primeira casa terapêutica no Brasil. Ele ressaltou
durante a audiência pública que estas comunidades não são clínicas, nem hospitais psiquiátricos. "Somos uma terceira alternativa
criada pela sociedade. Deveríamos ter o apoio do governo para conseguirmos ter leitos para o enfrentamento do crack", salientou,
afirmando que hoje não existe uma política pública para as comunidades terapêuticas, mas que a entidade luta por isso. "Não
conseguimos uma legislação, mas já conseguimos uma normatização da Anvisa". O presidente da Compacta Comunidades Terapêuticas
Associadas, Marcos Pinheiro, complementou dizendo que 80% do atendimento de dependentes químicos é feito pelas comunidades
terapêuticas. "São duas mil no Brasil, com 40 mil residentes e quase dez mil pessoas envolvidas no atendimento destas comunidades.
Em Curitiba e região metropolitana temos em torno de 50 a 60".
Participaram da audiência os vereadores Jorge Yamawaki (PSDB), Noemia Rocha (PMDB), Pedro Paulo (PT), Pastor Valdemir
Soares (PRB), Julião Sobota (PSC), Roberto Hinça (PDT) e Professora Josete (PT). Estiveram presentes ainda o secretário municipal
Antidogas, Hamilton José Klein, a ex-vereadora Roseli Isidoro, representando a senadora Gleisi Hoffmann, (PT) e Marisa Lobo,
representando o deputado federal Fernando Francischini (PSDB).
Fonte: CRM-PR, com informações CMC