Documento foi elaborado por entidades médicas e esportivas e está disponível para consulta e download
Os médicos e atletas brasileiros contam agora com um guia prático, com orientações objetivas, sobre os riscos do doping causado
pelo uso de medicamentos e suplementos. O documento de 72 páginas foi produzido pela Câmara Técnica de Medicina do Esporte
do Conselho Federal de Medicina (CFM) e contou com a contribuição de especialistas da Sociedade Brasileira de Medicina do
Esporte (SBMEE), do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), da Confederação Brasileira de
Futebol (CBF) e da Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem (ABCD).
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Com o lançamento
do guia, o Conselho Federal de Medicina e as outras entidades têm a intenção de conscientizar de um lado os competidores sobre
os riscos do uso inadvertido de fórmulas e os médicos e os profissionais da saúde sobre os efeitos que determinados medicamentos
podem gerar. Para o presidente do CFM, Carlos Vital, a expectativa é criar uma rede colaborativa de ética e boas práticas
esportivas.
"Esperamos que essa cartilha sirva de apoio não só para os profissionais especializados no tema, mas
para todos os interessados. Certamente será um subsídio importante, principalmente para o médico assistente de atletas e de
praticantes de exercícios físicos, além dos próprios esportistas e suas equipes de apoio", afirmou.
Lacuna
O trabalho, que será encaminhado a todos os médicos brasileiros, em especial aqueles que atuam em áreas como ortopedia,
traumatologia, cardiologia e endocrinologia, preenche uma importante lacuna. O texto traz informações sobre substâncias consideradas
válidas, mas com consumo não liberado entre competidores por interferirem em seu desempenho e por provocarem ganho de força,
velocidade ou resistência.
Os atletas profissionais ou de alta performance de todas as modalidades são os mais
vulneráveis pela ingestão indevida desses produtos, pois são rotineiramente submetidos a testes de doping. Contudo, os praticantes
de atividade física amadores também podem ser prejudicados, com o aumento do rigor na fiscalização de provas específicas para
esse grupo. De acordo com Hésojy Gley Pereira Vital da Silva, do CPB e responsável pela elaboração do documento, a tendência
é que as análises para identificar casos de dopagem passem ser comuns em eventos não profissionais.
Situação
do Brasil Segundo a ABCD, o doping é caracterizado pela utilização de substâncias ou métodos proibidos
capazes de promover alterações físicas ou psíquicas que melhoram artificialmente o desempenho esportivo do atleta. No Brasil,
o Tribunal de Justiça Desportiva Antidopagem, criado em 2016, já puniu cerca de 30 atletas pelo uso de substâncias proibidas
– alguns casos estão em grau de recurso. Ao todo, aproximadamente 70 processos tramitam na Corte.
Já o relatório
mais recente publicado pela WADA (sigla em inglês da Agência Mundial Antidoping), também de 2016, dentre os 34 laboratórios
certificados pela entidade espalhados em 29 países pelo mundo, o Brasil possui a 10ª menor média de Resultados Analíticos
Adversos (AAF, na sigla em inglês), que são os casos onde foram identificadas substâncias proibidas nos exames de doping.
Das 9.465 amostras submetidas a exames de urina e sangue, 98 apresentaram resultados positivos (AAF), número que representa
1,04% do total das amostras. O número está abaixo da média mundial (1,60%), calculada a partir dos dados coletadas pelos 34
laboratórios certificados pela WADA. Cerca de 60% das amostras foram realizadas em competições oficiais e os outros 40%, fora
de competições oficiais.
Além disso, outras 716 amostras foram coletadas para serem submetidas ao exame do Passaporte
Biológico do Atleta (ABP), que analisa a saúde do atleta a partir de dados sanguíneos em busca de alterações. Com os avanços
científicos e tecnológicos, o crescimento desse tipo de exame já é perceptível. Só no Brasil, os números saltaram de 101 coletas,
em 2015, para 716 no ano seguinte.
Aumento de casos Entre os anos de 2015 e 2016,
houve um aumento expressivo do percentual de resultados positivos a nível mundial, saltando de 1,26% para 1,60%. Esse aumento,
segundo aponta o próprio relatório da WADA, está diretamente ligado a inclusão do Meldonium entre as substâncias proibidas.
O fármaco ficou mundialmente conhecido após a denúncia de doping da tenista russa Maria Sharapova.
Trata-se de
uma substância usada para tratamento de pacientes com problemas cardíacos e normalmente é receitado para quem sofre de isquemia
do coração, doenças neurodegenerativas, pulmonares e doenças do sistema imunológico. Dentre as 721 ocorrências de uso de substâncias
classificadas como Moduladores Metabólicos e Hormonais, o Meldonium foi responsável por 71% dos casos.
Entre os
atletas amadores, uma das substâncias mais comuns é a Eritropetina, um hormônio que eleva a produção de células vermelhas
pelo sangue. Ao aumentar a capacidade de transporte de oxigênio pelo sangue, a substância, consequentemente, permite a produção
de energia aeróbica e melhora o rendimento em provas longas e extenuantes.
O medicamento é indicado para doenças
que afetam a produção de células vermelhas e o uso indevido pode acarretar em doenças como trombose, além de aumentar as chances
de um infarto ou um Acidente Vascular Cerebral (AVC). O caso mais famoso de dopagem por Eritropetina é o do ciclista americano
Lance Armstrong, que ficou conhecido por ter vencido o Tour de France sete vezes (de 1999 a 2005). Armstrong teve todos seus
títulos cassados e perdeu todos os patrocínios.
Nas academias, por exemplo, as substâncias mais comuns são os esteroides
anabolizantes, hormônios produzidos sinteticamente a fim de substituir a testosterona. Nomes como androsterona, dianabol e
drostanolona são recorrentes nesse meio e, inclusive, de fácil acesso em farmácias convencionais ou nas de manipulação.
Em geral, os efeitos buscados são a perda de gordura e o aumento da massa muscular, mas os efeitos colaterais são
diferentes em homens e mulheres. Nas mulheres, há o desenvolvimento de características masculinas como o engrossamento da
voz, crescimento de pelos e aumento da força física, assim como perda de gordura e aumento da massa muscular. Já nos homens
ocorre o inverso. Ao injetar hormônios extras, o corpo masculino entende que não precisa mais produzir e isso leva a um atrofiamento
dos testículos.
Em 2007, durante os Jogos Panamericanos do Rio de Janeiro, a nadadora brasileira Rebeca Gusmão
foi acusada no exame antidoping por altas taxas de testosterona no corpo. Na época, a nadadora perdeu as quatro medalhas conquistadas
na competição – dois ouros, uma prata e um bronze, além de ser banida do esporte olímpico.
Debate
Com a aproximação de um dos maiores eventos esportivos do Mundo, a Copa do Mundo de Futebol, o CFM, juntamente
com entidades médicas e esportivas, lançou o guia no dia 11 de maio, durante o IV Fórum de Medicina do Esporte, em Brasília
(DF).
A expectativa é reacender as discussões sobre as regras básicas relacionadas ao doping e à suplementação
alimentar nas modalidades de alta performance. Para o coordenador da Câmara Técnica de Medicina do Esporte do CFM, Emmanuel
Fortes, muitos atletas são pegos em exames antidoping porque usaram medicamentos prescritos por médicos que não são do clube
e não tinham conhecimento das substâncias proscritas no esporte.
Segundo ele, o Brasil já esteve entre o grupo
dos dez países com maior número de casos de doping registrados pela WADA, entidade esportiva internacional que fiscaliza o
tema. "Hoje esse é um problema contra o qual as autoridades brasileiras estão mais atentas. No entanto, infelizmente o doping
tem alcançado muitos adeptos no esporte amador, principalmente entre aqueles que buscam notoriedade nas redes sociais", lamentou.
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