03/06/2019

Atenção Primária à Saúde no foco do sistema suplementar

Caroline Patricio Caldeira

Recentemente, nos deparamos com um movimento crescente das operadoras de planos de saúde brasileiras, que têm dado cada vez mais importância às ações preconizadas pela Atenção Primária à Saúde (APS). Percebeu-se que o modelo de assistência pautado prioritariamente no diagnóstico e tratamento de doenças não sustenta resultados positivos a longo prazo, tampouco representa a maneira mais racional e eficiente de se canalizar os recursos para a saúde.

A APS é um conjunto de ações voltadas para a promoção da saúde e a prevenção de doenças. A promoção de saúde é um conceito amplo que visa fomentar o bem-estar físico e social, dando condições para que o próprio indivíduo e sua comunidade sejam os principais agentes transformadores da saúde. Para quem deseja entender melhor sobre promoção de saúde, sugiro que leiam dois documentos de suma importância: a Declaração de Alma-Ata, formulada na Conferência Internacional sobre Cuidados Primários de Saúde, no Cazaquistão, em 1978; e a Carta de Ottawa, apresentada na Primeira Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde, no Canadá, em 1986.

A prevenção de doenças, por sua vez, se divide em quatro níveis de prevenção que objetivam evitar o surgimento de um agravo na população hígida (prevenção primária), prevenir e detectar precocemente o aparecimento de complicações e novas doenças naqueles já acometidos por alguma moléstia (prevenção secundária), e promover a reabilitação e a reintegração dos indivíduos que sofreram prejuízos funcionais por algum agravo (prevenção terciária). A prevenção quaternária, para mim, possui um significado notório com tom de advertência, que é o de evitar os prejuízos de intervenções diagnósticas e terapêuticas excessivas, expondo o indivíduo a riscos desnecessários.

O Sistema Único de Saúde (SUS) se norteia por estes conceitos, até porque, para o sistema público, promover saúde e prevenir doenças é uma questão de sobrevivência. Sem ações como essa, o sistema, que já apresenta dificuldades para se sustentar, já teria colapsado. No entanto, sobreviver através da APS não é arsenal apenas do SUS: a necessidade de focar nesse modelo de assistência tem batido na porta do sistema suplementar de saúde.

O raciocínio é relativamente simples: é muito mais racional, em termos de saúde, dedicar-se a ser tão ou mais eficaz em prevenir doenças e instruir a população a se autocuidar, do que ser eficaz apenas em detectar e tratar as doenças. Mas apesar do raciocínio simples, transformar atitudes nem sempre é fácil. Neste sentido, um ponto fundamental para que essa forma de assistência vigore é a participação ativa da população nas ações de saúde, por isso, costumo defender que a educação e a saúde são dois setores que devem andar de mãos dadas. Só se consegue atuação adequada do indivíduo quando este alcança entendimento suficiente da importância e significado do que se faz.

Com esse processo de busca por uma assistência à saúde mais eficiente e eficaz, a APS ganha os holofotes, mostrando ser elemento chave tanto no setor público quanto no privado. Neste cenário, quem sai ganhando é a saúde brasileira e a saúde financeira das instituições!

Artigo escrito pela médica Caroline Patricio Caldeira (CRM-PR 28.654). Formada pela Universidade Federal do Paraná e especialista em Clínica Médica, atua no desenvolvimento e gestão de Programas de Promoção de Saúde e Prevenção de Doenças no setor suplementar.

**As opiniões emitidas nos artigos desta seção são de inteira responsabilidade de seus autores e não expressam, necessariamente, o entendimento do CRM-PR. 

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