Recentemente, nos deparamos com um movimento crescente das operadoras de planos de saúde brasileiras, que têm dado cada
vez mais importância às ações preconizadas pela Atenção Primária à Saúde (APS). Percebeu-se que o modelo de assistência pautado
prioritariamente no diagnóstico e tratamento de doenças não sustenta resultados positivos a longo prazo, tampouco representa
a maneira mais racional e eficiente de se canalizar os recursos para a saúde.
A APS é um conjunto de ações voltadas
para a promoção da saúde e a prevenção de doenças. A promoção de saúde é um conceito amplo que visa fomentar o bem-estar físico
e social, dando condições para que o próprio indivíduo e sua comunidade sejam os principais agentes transformadores da saúde.
Para quem deseja entender melhor sobre promoção de saúde, sugiro que leiam dois documentos de suma importância: a Declaração
de Alma-Ata, formulada na Conferência Internacional sobre Cuidados Primários de Saúde, no Cazaquistão, em 1978; e a Carta
de Ottawa, apresentada na Primeira Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde, no Canadá, em 1986.
A prevenção
de doenças, por sua vez, se divide em quatro níveis de prevenção que objetivam evitar o surgimento de um agravo na população
hígida (prevenção primária), prevenir e detectar precocemente o aparecimento de complicações e novas doenças naqueles já acometidos
por alguma moléstia (prevenção secundária), e promover a reabilitação e a reintegração dos indivíduos que sofreram prejuízos
funcionais por algum agravo (prevenção terciária). A prevenção quaternária, para mim, possui um significado notório com tom
de advertência, que é o de evitar os prejuízos de intervenções diagnósticas e terapêuticas excessivas, expondo o indivíduo
a riscos desnecessários.
O Sistema Único de Saúde (SUS) se norteia por estes conceitos, até porque, para o sistema
público, promover saúde e prevenir doenças é uma questão de sobrevivência. Sem ações como essa, o sistema, que já apresenta
dificuldades para se sustentar, já teria colapsado. No entanto, sobreviver através da APS não é arsenal apenas do SUS: a necessidade
de focar nesse modelo de assistência tem batido na porta do sistema suplementar de saúde.
O raciocínio é relativamente
simples: é muito mais racional, em termos de saúde, dedicar-se a ser tão ou mais eficaz em prevenir doenças e instruir a população
a se autocuidar, do que ser eficaz apenas em detectar e tratar as doenças. Mas apesar do raciocínio simples, transformar atitudes
nem sempre é fácil. Neste sentido, um ponto fundamental para que essa forma de assistência vigore é a participação ativa da
população nas ações de saúde, por isso, costumo defender que a educação e a saúde são dois setores que devem andar de mãos
dadas. Só se consegue atuação adequada do indivíduo quando este alcança entendimento suficiente da importância e significado
do que se faz.
Com esse processo de busca por uma assistência à saúde mais eficiente e eficaz, a APS ganha os holofotes,
mostrando ser elemento chave tanto no setor público quanto no privado. Neste cenário, quem sai ganhando é a saúde brasileira
e a saúde financeira das instituições!
Artigo escrito pela médica Caroline Patricio Caldeira (CRM-PR 28.654). Formada pela Universidade Federal
do Paraná e especialista em Clínica Médica, atua no desenvolvimento e gestão de Programas de Promoção de Saúde e Prevenção
de Doenças no setor suplementar.
**As opiniões emitidas nos artigos desta seção são de
inteira responsabilidade de seus autores e não expressam, necessariamente, o entendimento do CRM-PR.