18/07/2013
Marcos Coimbra
As últimas medidas anunciadas pelo Governo Federal revelam um grau de primarismo inaceitável para administradores
até iniciantes, quanto mais para os necessários para dirigir os destinos de um país como o Brasil.
Há uma crise de governança ("maneira pela qual o poder é exercido na administração
dos recursos sociais e econômicos de um país visando o desenvolvimento e a capacidade dos governos de planejar,
formular e programar políticas e cumprir funções") e de gestão ("gerenciamento, administração,
onde existe uma instituição, uma empresa, uma entidade social de pessoas, a ser gerida ou administrada") inacreditáveis.
Nada funciona em benefício do cidadão, sob o qual recai o ônus de uma das maiores cargas tributárias
do mundo, sem a devida contrapartida do oferecimento de serviços capazes de atender às necessidades coletivas.
De fato, presenciamos uma crise sistêmica, na qual existe uma verdadeira incapacidade do poder público em
suprir as carências da população. Daí a justa indignação que levou milhões
de pessoas a protestar pelas ruas do país, autonomamente, sem a tutela de pelegos a serviço do governo. E, caso
não sejam atendidas suas reivindicações, o povo voltará a protestar.
Não há
como deixar de analisar especificamente as ações anunciadas no relativo à Saúde. A importação
de médicos estrangeiros (seria melhor a importação de políticos suecos) representa uma agressão
gratuita e irresponsável à mesma classe médica brasileira capaz de atender com competência, zelo
e profissionalismo irrepreensíveis tanto ao ex-presidente como a atual, acometidos de grave enfermidade, que sobreviveram
graças a excelência de nossos facultativos.
É oportuno lembrar que Chávez escolheu o tratamento
em Cuba e o resultado não foi bom. Como entregar nas mãos de "médicos" estrangeiros a assistência
de milhares de brasileiros, sem sequer sua aprovação no Revalida?
Quando surgirem erros capazes de
conduzir o paciente ao êxito letal, quem será responsabilizado?
Por acaso nossas autoridades também
passarão a ser atendidas por este tipo de profissional ao invés da segura assistência dos renomados especialistas
do Sírio Libanês ou do Albert Einstein?
Caso concretizado este absurdo, teremos claramente a diferenciação
entre cidadãos de primeira categoria e de segunda categoria, caracterizando uma odiosa discriminação,
ao contrário do discurso oficial.
Se o problema é referente à localização dos
médicos em muitos municípios sem a adequada cobertura, cabe aos políticos e administradores da área
a responsabilidade para resolver o problema, pois para isto eles são muito bem pagos. Se não possuem competência,
peçam demissão e passem seus cargos para aqueles mais capazes de identificar as causas, os fatores adversos
e as políticas e estratégias hábeis para solucionar a questão.
Chega de usar a covarde
tática de tirar a responsabilidade de seus ombros, transferindo-as para os médicos a omissão e falta
de investimentos na Saúde nos últimos anos. Chega de desviar a atenção da imprensa e da população,
transferindo para a falta de médicos a causa destes problemas.
A ausência de investimentos e desvios
de verbas, ausência de estruturas mínimas, material e instrumentos de trabalho, a falta de segurança e
os baixos salários que afastam os profissionais dos locais mais distantes e das periferias são omitidos.
Existe na Internet um movimento de médicos de todo o Brasil (Amem, Associação de Médicos
Maçons) no sentido de mostrar a discordância e repulsa diante de tais fatos, solicitando a todos os facultativos
dos diferentes Estados e simpatizantes da nobre causa, a proceder da seguinte maneira:
1 – Como forma de pressão,
o envio de mensagens solicitando posicionamento dos médicos diante dos fatos mencionados;
2 – Solicitar a
todo cidadão consciente, mesmo não médico, mas adepto desta causa, a proceder da mesma forma;
3 –
Motivar o maior número de médicos, acadêmicos e/ou residentes, para procedimento semelhante.
Esta é uma forma de demonstrar a insatisfação da Sociedade Brasileira, em especial dos médicos
e de seus amigos, com os últimos procedimentos da presidente Dilma e de seus ministros da Saúde e da Educação.
Outro absurdo, característico de um regime autoritário é a tentativa de obrigar os estudantes de
Medicina, a partir de 2015, a cursar mais dois anos de serviço obrigatório em regiões impostas pela administração
central, mesmo os que cursaram faculdades particulares, pagando verdadeiras fortunas.
Como se sentirá o jovem
“estagiário” ao atender um paciente nestas condições?
Artigo escrito por Marcos
Coimbra, membro do Conselho Diretor do Cebres, titular da Academia Brasileira de Defesa e da Academia Nacional de Economia
e autor do livro Brasil Soberano.
Publicado no Jornal Mercantil no dia 17 de julho de 2013.