07/03/2021
Regina Celi Passagnolo Sergio Piazetta
Mês da Mulher e Dia Internacional da Mulher
(8 de março). Uma homenagem especial a todas as médicas, guerreiras incansáveis ante aos tantos desafios
do seu cotidiano
Em dezembro de 2020, completei 36 anos de profissão como médica ginecologista. Em 1984, nós, mulheres, representávamos cerca de 25% dos formandos. Íamos bem nas provas e enfrentávamos os estágios com coragem e disposição. Imaginávamos que algumas de nós não exerceriam a profissão na mesma intensidade que os colegas homens, pois o conceito do provedor masculino ainda era a regra.
Conversamos agora com algumas colegas, que se lembram de ter vivido uma abordagem mais dura e incrédula por parte de alguns de nossos mestres na residência médica. Como quando éramos chamadas de “doutorinha”, por exemplo. Alguns hospitais simplesmente não tinham vestuário para médicas, obrigando-nos a trocar a roupa no vestiário da enfermagem, muitas vezes não tão bem localizado em relação ao centro cirúrgico. Nunca encarei isso como algum tipo de discriminação. O fato é que as mulheres estavam em menor número, principalmente nas especialidades cirúrgicas.
Sempre encarei tudo como desafio e segui em frente. Casei-me já no ano seguinte à formatura; tive três filhas. Tenho a certeza que foram os anos que mais trabalhei em minha vida. Não havia nenhuma rotina. A obstetrícia era a minha vida. Muitos ambulatórios e muitos plantões, madrugadas e feriados, emergências e emergências, visitas nas maternidades todos os sábados e domingos. Eu amava o que fazia. Minha satisfação em atender a tantos nascimentos transbordava. Não me sentia tão cansada como seria de se esperar. Hoje não consigo entender onde eu encontrava tanta energia e disposição.
Cada colega médica que se formou na mesma época tem sua historia para contar. Sou grata por ter tido a oportunidade de exercer de forma tão intensa a obstetrícia. Ouvi algumas críticas por não estar tão presente quanto uma mãe “deveria estar”. Também muitas vezes me senti culpada por não conseguir estar presente em algumas comemorações escolares, como a do “dia das mães”. Mas quando eu estava, filmava e fotografava as apresentações, chorando de emoção. Quando chegava feliz em casa, embora por vezes cansada, eu era desarmada pelas manifestações de amor, abraços e beijos.
Nunca motivei minhas filhas a serem médicas. Por conhecer o lado mais difícil da profissão em relação ao sofrimento humano, os insucessos; desejava poupá-las. Fui surpreendida quando duas das minhas três filhas se identificaram com a área da saúde e fizeram esta escolha. Hoje, ao questioná-las, ouço que sempre enxergaram em mim uma pessoa realizada, satisfeita com o trabalho.
A situação já era outra na época em que minhas filhas estudaram Medicina. As mulheres, já em maioria no curso, não sentiam a necessidade de demonstrarem força para não serem consideradas “frágeis”. Relataram-me ainda abordagens machistas por parte de alguns mestres mais velhos, mas sem se sentirem intimidadas. Exercem a profissão de igual para igual. Vejo as mulheres médicas muito unidas, indicando aos pacientes umas às outras para determinadas especialidades. Não enxergam barreiras sexistas; já venceram esta etapa. Principalmente neste momento de pandemia, dividem os plantões nas UTIs. O medo natural não às impede de assumir qualquer trabalho.
* Regina Celi Passagnolo Sergio Piazetta é 2.ª secretária do CRM-PR, diretora-tesoureira da Associação Médica do Paraná e diretora-tesoureira da Associação de Ginecologia e Obstetrícia do Paraná (Sogipa).
**As opiniões emitidas nos artigos desta seção são de inteira responsabilidade de seus autores e não expressam, necessariamente, o entendimento do CRM-PR.