Inaugurada no dia 15 de setembro, durante homenagem aos pioneiros japoneses na Medicina, mostra reúne obras de 15 artistas.
Durante a solenidade comemorativa ao Centenário da Imigração Japonesa, com homenagem aos pioneiros na profissão médica,
o Conselho Regional de Medicina inaugurou em seu Espaço Cultural a mostra
"Arte Nikkei no Centenário da Imigração Japonesa
ao Brasil", que ficará aberta à visitação pública até 24 de outubro, em horário comercial.
A exposição reúne pinturas, esculturas e fotografias de 15 artistas paranaenses, descendentes de japoneses, incluindo
um médico, o Dr. Celso Setogutte, também filho de médico e com irmã médica; Sandra Hiromoto, casada com um médico; e ainda
Renata Otsuka, filha e neta de médicos homenageados pelo Conselho.
Levada inicialmente ao Memorial de Curitiba, a mostra tem como curadora Julia Ishida. A organização é de Marília Kubota
e Suemi Hamasaki, com texto de Marcos Kimura (confira abaixo). A realização e apoio envolve o Conselho de Medicina, Associação
Cultural e Beneficente Nipo-Brasileira de Curitiba e a Fundação Cultural de Curitiba.
Os artistas
Estão expostas obras de pintura dos artistas Adelina Nishiyama, Akiko Mileo, Cláudio Seto, Julia Ishida, Marcos Kimura
e Sandra Hiromoto; esculturas de Carol Chuman, Celso Setogutte, Claudine Watanabe, Eliza Maruyama, Renata Otsuka e Yumie Murakami;
e fotografias de Chuniti Kawamura, Roger Noguti e Shigueo Murakami.
Tradição ou ruptura
O resultado de uma visita à Arte Nikkei no Centenário é a sensação de evolução ou revolução, de relacionamento íntimo
com a cultura dos antepassados, mas também de ousadia. Tradição ou ruptura, os nikkei não são japoneses, ao contrário do imaginário
coletivo. E vivem esta alternância e complementariedade, entre opostos e compostos, reação e interação.
A mostra pretende enaltecer o arrojo dos primeiros imigrantes não apenas repassando as páginas da história, mas também
por meio da conquista da modernidade pela nova geração "nikkei". Uma conquista que prova a plena integração e irmanação da
comunidade "nikkei" à sociedade brasileira, bem como o valor de uma cultura caracterizada pelo esforço individual inserido
no coletivo, princípios que norteiam a Medicina e o exercício ético da profissão.
A exposição traz obras de quinze artistas nipo-brasileiros da terceira e quarta gerações e retrata a convivência entre
japoneses, descendentes e brasileiros, imigrantes de outras etnias e descendentes na terra do "em se plantando tudo dá". A
mostra é uma realização da Associação Cultural e Beneficente Nipo-Brasileira de Curitiba e tem o apoio do Conselho Regional
de Medicina do Paraná e da Fundação Cultural de Curitiba.
As muitas faces da arte Nikkei
A espiritualidade e o apuro formal são marcantes nas obras dos irmãos Shigueo e Yumie Murakami. Na fotografia e na cerâmica
repercutem os ecos da filosofia zen-budista. Similar repercussão é sentida nos objetos de Celso Setogutte, para quem o espaço
tem função importante, assim como a busca da forma exata. A delicadeza e paciência orientais transparecem na escultura de
Renata Otsuka. Embora seu tema seja cristão, a forma é definitivamente oriental.
Outros trazem a marca da dupla identidade, como Eliza Maruyama. A artista propõe um tema lúdico ao mesmo tempo ligado
à tradição japonesa - os koinobori, as carpas do Festival dos Meninos. Claudine Watanabe faz uma releitura do ready made numa
versão pós-moderna com toques japoneses.
Na linha do registro histórico, Marcos Kimura presta homenagem aos pioneiros imigrantes japoneses que desembarcaram em
Florianópolis, com elementos da paisagem local, compondo um antropofagismo visual. Para Chuniti Kawamura o forte é o flagrante
cotidiano, influenciado pelo trabalho de fotojornalismo.
Os temas da fluidez e mobilidade atraem Júlia Ishida, Cláudio Seto e Roger Noguti. Julia questiona a mobilidade e a imobilidade,
num jogo conceitual entre opostos em que não existem contrários, e sim complementos. Cláudio Seto volta-se ao abstracionismo,
à maneira de Mabe, sem o rigor da linha japonesa. Roger faz pesquisas com o tema da água dentro do ambiente da fotografia
digital.
No quarto grupo detectamos traços característicos do ocidente. O cotidiano doméstico é o tema de Adelina Nishimura e Akiko
Mileo. Para a primeira, a rotina pode ser plástica, mas tem uma conclusão perversa. Akiko retoma tradições, não de antepassados
míticos, mas da infância, em que os elementos marcantes são os da religiosidade.
As fotografias de cenas urbanas com interferência da arte pop de Sandra Hiromoto poderiam levar o espectador a imaginar
ícones conhecidos da arte de massa. Porém através de sua paleta de cores, a artista traz um efeito de familiaridade e afetividade,
ao retratar as grandes cidades. Já Carol Chuman, busca o efeito oposto, o da estranheza. Do interior de um vaso brota a deterioração,
ou quem sabe, a possibilidade de vida.
Leia também
A homenagem do Conselho aos pioneiros
japoneses na Medicina no site do CRMPR.