26/09/2007
Apesar de reajuste do SUS, médicos ameaçam parar
Em Salvador, 300 hospitais e clínicas particulares avisam que vão interromper atendimento conveniado
Os cerca de 300 hospitais e clínicas particulares de Salvador (BA) conveniados ao Sistema Único de Saúde (SUS) ameaçam
parar o atendimento pelo SUS a partir de terça-feira (2 de outubro).
O motivo é um impasse entre os hospitais e a Secretaria Municipal de Saúde, responsável pelo repasse da verba do SUS.
Em maio, a prefeitura estabeleceu um teto para o número de atendimentos mensais de trauma e ortopedia por hospital. A unidade
que ultrapassa a cota tem de arcar com os custos.
"A decisão da secretaria foi arbitrária, nos pegou de surpresa", afirma o presidente do Sindicato dos Hospitais, Estabelecimentos
e Serviços de Saúde do Estado da Bahia (Sindhosba), Raimundo Correia. "De uma hora para outra, houve corte de 25% no repasse
das verbas - que já eram insuficientes para cobrir os custos dos procedimentos. Agora, a situação chegou a um ponto insustentável."
À época, a secretaria justificou a atitude como uma forma de desestimular que pacientes de outros municípios procurassem
tratamento em Salvador. Na prática, algumas clínicas da capital baiana passaram a atender pacientes do SUS até o limite. Atingida
a cota, a unidade passava a redirecionar os pacientes a outras, até que encontrasse atendimento.
Os hospitais e clínicas particulares respondem por 95% dos atendimentos ortopédicos e de traumas pelo SUS na capital
baiana. Em viagem a Brasília desde o início da semana, o secretário Carlos Alberto Trindade não foi encontrado para comentar
a situação.
Aumento insuficiente
O anúncio da liberação de R$ 1,2 bilhão adicionais para reajustes de procedimentos médicos pelo SUS, anunciado pelo ministro
da Saúde, José Gomes Temporão, não serviu para afastar a ameaça de paralisação nos hospitais e clínicas conveniados ao sistema
em Salvador.
"A resolução do ministro não é irrelevante, mas um reajuste de 30% em alguns procedimentos é ainda muito aquém do necessário",
afirma Correia. O presidente da Federação Brasileira de Hospitais, Eduardo de Oliveira, concorda. "Falta muito a ser feito
para que haja pelo menos equilíbrio entre o custo real dos procedimentos e o valor pago pelo SUS. É preciso ver se os reajustes
serão suficientes para acalmar os ânimos."
Sem acordo
No Ceará os cirurgiões cardiovasculares conveniados ao SUS insistem na greve que já dura mais de dois meses. Após passar
a tarde toda de ontem reunidos com a prefeita Luizianne Lins (PT), os médicos da rede municipal decidiram manter, amanhã,
uma paralisação de 24 horas e entrar em greve a partir da próxima terça-feira.
Os cardiologistas dizem que só voltam a trabalhar se o Estado e o municio complementarem o valor pago por consultas e
pelos procedimentos realizados por eles. O Ministério da Saúde elevou o valor das consultas de R$ 7,50 para R$ 10, mas eles
querem R$ 35.
Quanto aos médicos da rede municipal, a prefeita Luizianne propôs salário-base de R$ 1.700 para 20 horas semanais (hoje
é R$ 726) e manutenção de gratificações. De acordo com a presidente da Associação Médica Cearense, Marjorie Mota, a proposta
não satisfaz. "Fixa em R$ 1.700, mas não projeta o salário para R$ 3.400 em um prazo de quatro anos, como queremos", afirma.
Fonte: O Estado de S.Paulo