15/04/2016

Aos médicos, Sérgio Moro diz que a sociedade pode combater a corrupção

Juiz participou de conferência na Associação Médica do Paraná na noite desta quinta (15)

clique para ampliar>clique para ampliarPalestra reuniu mais de 300 participantes na Associação Médica do Paraná. (Foto: AMP)

Em palestra magna promovida pela Academia Paranaense de Medicina, Associação Médica do Paraná e Conselho Regional de Medicina do Paraná, o juiz federal Sérgio Moro, titular da 13ª Vara Federal de Curitiba, responsável pelas ações penais da Operação Lava Jato, disse que o país precisa aproveitar o momento histórico de mobilização popular para cobrar ações efetivas de combate e prevenção à corrupção.

Moro afirma que “o custo da corrupção sistêmica é extraordinário e o seu principal impacto é na crença da população no sistema democrático. Há um progressivo erosionamento da fé do cidadão, que passa a desacreditar nas suas potencialidades, que tem sua auto estima afetada, tanto aqui quanto lá fora”.

Para ele, “a grande questão diante deste quadro de corrupção sistêmica é o que fazer. Como sair desta situação. E as alternativas são escolhermos entre duas questões básicas: ignorarmos e varrermos para debaixo do tapete, ou podemos fazer a escolha mais difícil, mas a única moralmente aceitável, que é o enfrentamento deste quadro, com as dificuldades recorrentes”.

clique para ampliar>clique para ampliarJuiz Sergio Moro. (Foto: AMP)

O juiz também acredita que é preciso aceitar uma pontual instabilidade política, uma eventual instabilidade institucional, “mas os ganhos serão muito maiores”. No entanto, cobrou que cada órgão, inclusive a sociedade civil, faça a sua parte. “A justiça tem uma atuação muito limitada, um juiz criminal, mais ainda. Os crimes não vão ser todos descobertos, alguns dos descobertos não serão provados e alguns dos provados não encontrarão a resposta adequada na justiça criminal”, disse. “O que tem que funcionar são as demais instituições democráticas, o executivo, o legislativo e a sociedade civil, que precisa se posicionar, cobrando das autoridades o enfrentamento desta decisão”, afirmou, lembrando que a Operação Mãos Limpas, na Itália, depois de um certo tempo, perdeu apoio popular e acabou resultando no surgimento de políticos oportunistas e ações do governo e do parlamento para dificultar as investigações e a punição de casos de corrupção.

Confira o álbum de fotos.

Sérgio Moro destacou que a corrupção não é culpa exclusiva dos governos e que também não é o Estado que vai solucioná-la. “Temos que perder o costume de que a corrupção é culpa exclusiva dos governos ou dos políticos. Corrupção envolve quem paga e quem recebe. A iniciativa privada, paralelamente à ação da justiça, do governo e do legislativo, tem um papel fundamental no que se refere à prevenção destas práticas”.

clique para ampliar>clique para ampliarAntes do início da palestra Moro se reuniu com representantes do CRM-PR, AMP e Academia Paranaense de Medicina. (Foto: AMP)

O juiz elogiou o projeto de iniciativa popular das 10 medidas contra a corrupção, que recebeu o apoio irrestrito das entidades médicas, e disse que “o mais importante da iniciativa, mesmo que alguns pontos tenham que ser melhor discutidos, foi o ato de romper a inércia institucional do executivo e do legislativo para resolver esse tipo de problema. Acho muito positivo essas manifestações em apoio às investigações. Mas tem que transformar isso em ganhos institucionais duradouros. E é um desafio saber se a democracia brasileira terá condições de superar essas questões”, afirmou.

Sérgio Moro revelou ter expectativa de que o julgamento das ações penais da Lava Jato em primeira instância se encerre até o fim do ano, mas disse ser imprevisível, uma vez que a cada semana surgem fatos novos “e eu não vou varrê-los para debaixo do tapete”, assegurou. Ele disse estar diante de um caso de corrupção sistêmica, “com alguns dos envolvidos, que já confessaram participação no esquema, não apontando, em seus depoimentos, um motivo óbvio do por que se pagava e por que se recebia propina, apenas dizendo que era a regra do jogo, apenas para manter o bom relacionamento, porque sempre funcionou dessa forma. E isso é o que nos causa mais consternação”, comentou.

O juiz concluiu pedindo paz e serenidade para a população brasileira. “Incomoda quando há um discurso partidarizando a ação da justiça ou incitando ódio contra ou por conta da ação da justiça. Essas coisas têm que ser tratadas com serenidade, sem ódio, sem emoções que nos levem a agredir o próximo, a ofender. Não há guerra, não há batalha”, afirmou.

Fonte: AMP e CRM-PR

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