26/01/2010
Anvisa faz alerta sobre remédio para emagrecer
Medida foi tomada no Brasil após a Agência Europeia de Medicamentos recomendar a suspensão da venda de sibutramina por
risco de enfarte.
Depois que a Agência Europeia de Medicamentos (Emea, em inglês) recomendou a suspensão da venda de sibutramina - uma das
drogas mais usadas para emagrecimento -, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) decidiu enviar um alerta a médicos
e farmacêuticos brasileiros sobre o tema.
A decisão do comitê europeu foi baseada em um estudo realizado com 10 mil pacientes que mostrou aumento de 16% na incidência
de enfarte e derrame em pessoas com histórico de problemas cardíacos que tomaram o medicamento. Para a Emea, portanto, os
riscos da substância são maiores do que os benefícios. Também com base nesse estudo, a Food and Drug Administration (agência
que regula medicamentos nos Estados Unidos) decidiu que deverá ser incluída na bula uma contraindicação para pacientes com
cardiopatias.
No Brasil, embora a bula do medicamento já mencione como possíveis eventos adversos a elevação da pressão arterial e arritmias
cardíacas, a única contraindicação é para pessoas com histórico de anorexia.
No ano passado, a Anvisa recebeu 37 notificações de eventos adversos do uso de sibutramina - 14 relacionadas a problemas
cardiovasculares. Não houve mortes.
Segundo o presidente da Anvisa, Dirceu Raposo de Mello, haverá em fevereiro uma reunião da Câmara Técnica de Medicamentos
para analisar os resultados desse estudo e decidir qual atitude tomar. "Podemos manter o nível de alerta atual, ampliar as
contraindicações e as restrições de venda ou até mesmo proibir a substância no País", afirmou. "Mas por enquanto vamos apenas
divulgar um alerta com essas evidências para os médicos."
O Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) enviou ontem uma carta à agência pedindo a retirada da droga do
mercado brasileiro. O texto alega que "as características da população à qual o medicamento é destinado tornam a situação
mais séria, posto que a obesidade é fator de aumento de risco de doenças cardiovasculares."
O presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, Ricardo Meirelles, afirmou em nota que "não há,
até o momento, evidências de que a prescrição criteriosa do medicamento, apenas para pacientes sem contraindicações formais
para o seu uso, ocasione aumento de eventos cardiovasculares". Disse também que "como a obesidade é um dos maiores problemas
de saúde pública atuais, é necessário lançar mão de todos os recursos terapêuticos seguros e consagrados por pesquisas científicas,
com o objetivo de combatê-la".
Já o coordenador do Serviço de Arritmias e do Centro de Fibrilação Atrial do Hospital Pró-Cardíaco, Eduardo Saad, afirma
que a sibutramina, assim como os emagrecedores à base de anfetamina, representam um risco para o coração mesmo para pessoas
sem histórico de doenças cardíacas.
Segundo relatório da Junta Internacional de Fiscalização de Entorpecentes (Jife), o Brasil está, ao lado da Argentina
e dos Estados Unidos, no topo do ranking mundial de consumo de remédios para emagrecer.
ENTENDA O CASO
A indicação da sibutramina para redução de peso - para quem tem índice de massa corporal acima de 30 - voltou a ser discutida
na quinta, quando a Agência Europeia de Medicamentos recomendou a suspensão da venda de drogas com a substância, por causa
do risco de enfarte e derrame em pessoas com problemas cardíacos.
A agência dos Estados Unidos ordenou que seja incluída na bula uma contraindicação para pacientes com cardiopatias. No
Brasil, a Anvisa decidiu ontem enviar um alerta a médicos e farmacêuticos.
A bula menciona como reações colaterais elevação da pressão arterial e arritmia cardíaca. Mas a única contraindicação
é para pacientes com histórico de anorexia. Originalmente, a sibutramina foi pesquisada para gerar um antidepressivo, pois
deixa a serotonina, neurotransmissor ligado ao bem-estar, agindo por mais tempo no sistema nervoso central
O remédio não geraria dependência porque não estimula o neurotransmissor dopamina.
Fonte: O Estado de São Paulo