10/12/2008

Anvisa deve vetar produto contra micobactéria

Glutaraldeído não poderia ser usado para limpar materiais em laparoscopia, dizem técnicos



O uso do produto químico glutaraldeído para desinfetar materiais utilizados em laparoscopias (intervenções feitas por meio de pequenos orifícios na pele) e cirurgias plásticas deverá ser proibido no País, concluíram especialistas reunidos em Brasília.
O grupo, convocado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), debateu ontem ações para prevenir a epidemia de infecções hospitalares por micobactérias de crescimento rápido, que fez pelo menos 2.122 vítimas no País (mais informações nesta pág.), além de medidas para melhorar o tratamento.

Segundo especialistas, houve consenso de que o uso do produto não deverá mais ser permitido antes de determinadas cirurgias por causa de sua ineficácia. A forma como será feita a restrição, no entanto, ainda terá de ser debatida pela área jurídica da agência e aprovada por sua diretoria.

A Anvisa já vinha recomendando que o glutaraldeído fosse substituído por outros métodos nos hospitais, mas recentemente uma resolução deu prazo de um ano para que fabricantes demonstrassem se o produto funciona contra as micobactérias, o que foi questionado pelos especialistas ao longo do encontro.

A Anvisa não quis se manifestar ontem sobre a reunião. Indústrias de produtos de limpeza protestaram contra a proibição do produto e apontaram que ele é utilizado com segurança em diversos países e que, para ser eficaz, deve haver limpeza de resíduos orgânicos dos materiais cirúrgicos.
"Já é de conhecimento que procedimentos de limpeza em hospitais não estão corretos e que há até reutilização indevida de equipamentos. Se não é feita a limpeza correta, nenhuma substância vai adiantar", disse Eugênia Saldanha, diretora-executiva da Associação Brasileira das Indústrias de Produtos de Limpeza. Ela destacou que as alternativas ao glutaraldeído são muito mais caras.

Em relação ao tratamento, os técnicos concluíram que as secretarias estaduais de saúde terão de definir centros para receber os pacientes. "E revisamos a terapia, pois não temos mais um tipo de micobactéria, a massiliense, mas também a abcessus 1 e 2 e a fortuitum, que têm uma sensibilidade diferente aos remédios", disse a pneumologista Margareth Dalcolmo, que participou do encontro.


SAIBA MAIS

Os primeiros casos de infecção hospitalar por um agente conhecido como micobactéria foram registrados no Brasil a partir de 2000. Eles chamaram mais atenção a partir de março de 2007, quando houve um surto em dezenas de hospitais do País. Na maioria, a infecção atingiu pacientes submetidos a cirurgias laparoscópicas e procedimentos estéticos.

A infecção causa ferida, abscesso com pus e perda de tecidos. Para técnicos do Ministério da Saúde, ela é ligada ao uso de material hospitalar contaminado.

Em junho de 2008, especialistas alertaram para o risco de nova epidemia. Em agosto, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) tornou obrigatória a notificação dos casos, ainda não consumada. Em novembro, o órgão confirmou 2.122 casos desde 2000, mas crê que o número real tenha sido cerca de 4 mil.



Fonte: O Estado de São Paulo

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