13/04/2011
Anvisa convocará FDA e agência europeia para debater emagrecedores
Órgão quer realizar um painel científico com especialistas estrangeiros para discutir a retirada de quatro medicamentos
usados no País contra obesidade; para médicos brasileiros, Anvisa trará pessoas que têm a mesma posição defendida pela agência
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) vai realizar um painel científico com especialistas de fora do Brasil
para discutir de maneira definitiva a proposta de retirar do mercado brasileiro os quatro medicamentos usados no tratamento
da obesidade.
Os compostos que estão na berlinda são aqueles que atuam apenas no sistema nervoso central: a sibutramina e os derivados
anfetamínicos femproporex, dietilpropiona e mazindol. O orlistate, que atua no intestino, permanece no mercado. A agência
vai financiar a vinda de especialistas de fora do País para debater o assunto. A ideia é trazer representantes da FDA (agência
americana que regulamenta fármacos), da Emea (agência europeia), além do autor principal do estudo Scout - que foi o gatilho
para a proibição da sibutramina na Europa.
Não é a primeira vez que a Anvisa financia a vinda de especialistas para discutir alguma proibição - a mesma medida foi
tomada em 2009, quando representantes da Organização Mundial da Saúde (OMS) vieram falar sobre a proibição do uso de câmaras
de bronzeamento. "Vamos convidar as entidades médicas envolvidas, representantes da nossa Câmara Técnica de Medicamentos (Cateme)
e o Ministério da Saúde, além de representantes de outros países. A Anvisa tem de assegurar que essas medicações são realmente
eficazes e seguras. Não podem ficar dúvidas", disse Dirceu Barbano, diretor da agência.
A proposta foi discutida ontem durante reunião da Diretoria Colegiada da agência, após a Anvisa apresentar um novo relatório,
elaborado pelo Núcleo de Vigilância em Efeitos Adversos (Nuvig) depois da audiência pública que abordou o tema.
O novo documento mantém a orientação anterior de banir as medicações do mercado. "O Nuvig e a Cateme não têm dúvidas.
Após analisar os dados apresentados pelas entidades médicas nós mantivemos o parecer sugerindo a retirada desses medicamentos
do mercado", afirmou Maria Eugênia Cury, do Nuvig.
Rosana Radominski, presidente da Associação Brasileira para Estudo da Obesidade (Abeso), diz que realização do painel
pode ser benéfica, mesmo acreditando que a Anvisa já tem opinião formada sobre o tema. "O painel será a nossa última alternativa
para tentar demonstrar os benefícios dos medicamentos. E é uma forma de a agência esgotar as possibilidades de debate", diz.
"Os nossos argumentos são exatamente opostos aos deles. A diferença é que eles estão com a caneta", diz.
Para Amélio Godoi Matos, do Instituto Estadual de Diabetes e Endocrinologia do Rio de Janeiro, a realização do painel
não deve mudar a decisão da agência. "Eles vão trazer pessoas para defender a ideia deles. No fundo, querem é dar suporte
a uma decisão já tomada e alegar que foram democráticos", disse Matos.
Obesidade avança no País
13% dos adultos no Brasil são obesos, segundo pesquisa do Ministério da Saúde feita em 2009. Em 2006, o índice era de
11,4%.
43% dos adultos que residem nas 26 capitais e do Distrito Federal estão acima do peso, segundo o Ministério da Saúde.
6.368.547 comprimidos de sibutramina e de derivados da anfetamina foram comercializados em todo o País em 2010
Fonte: O Estado de São Paulo