08/08/2007

Ação que salva vidas



É um trabalho árduo, nem sempre vitorioso, porém deveremos considerar as "vidas salvas" pelas campanhas. Com certeza não se pensa na erradicação do problema devido à dependência e à complexidade dos fatores envolvidos, mas observa-se um nítido declínio da prevalência do tabagismo no mundo. Alguns países produtores demonstram ainda um leve aumento do consumo, com a conseqüente alta da mortalidade pelas doenças relacionadas ao tabaco. Entre esses países estão Brasil e Malavi.


A maioria dos trabalhos de conscientização nas últimas décadas foi realizado por voluntários idealistas sem visar aos lucros financeiros. No início, além da classe médica, as história registra o interesse e a colaboração de leigos e entidades religiosas interessadas na preservação da saúde. Um exemplo demonstra bem isto: a organização religiosa mundial dos Adventistas do 7.° Dia, por princípios religiosos, orienta seus planos preventivos para a saúde há mais de 100 anos e há 60 divulga os malefícios do tabaco. Seus membros demonstram maior longevidade.


O tabagismo responde atualmente por 40% a 45% de todas as mortes por câncer, sendo 90% a 95% das mortes por câncer de pulmão; é causa de 85% das mortes por doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e por cerca de 25% das mortes por doenças vasculares, índice que sobe para 35% entre homens de 35 a 69 anos. O tabaco é causa de 15% do total de mortes nos países desenvolvidos. Hoje, temos 1,3 bilhão de fumantes e 5 milhões de mortes no mundo.


Um estudo sobre a mortalidade no Brasil no período de 1980 a 1995 abordando os padrões regionais e tendências temporais conclui as taxas de mortalidade por câncer de pulmão e outros cânceres relacionados ao tabaco (boca, faringe, esôfago, pâncreas, laringe, bexiga e rins) foram mais altas no Sul e no Sudeste. O Instituto Nacional do Câncer (INCA), ligado ao Ministério da Saúde, informa que a prevalência do tabagismo é maior na região Sul (42% dos habitantes da região) que no Nordeste (31% da população).


De 1991 a 1995 observou-se tendência à estabilidade da mortalidade por tipos de câncer relacionados ao tabaco. Esse fato foi particularmente acentuado nas populações masculinas do Sul e Sudeste, e menos perceptível na população feminina. Pode ser um indício dos possíveis efeitos positivos de mudanças nas atitudes dos brasileiros em relação ao tabaco, decorrentes das políticas de saúde pública para o controle do tabagismo. Uma pesquisa recém-publicada apontou queda do consumo per capita de cigarros de 1980 para 1990. Milhões de pessoas foram poupadas da morte.


A segunda sessão da Conferência das Partes da Convenção Quadro para o Controle do Tabaco coordenada pela OMS foi realizada em Bangcoc, na Tailândia, de 30 de junho a 7 de julho de 2007, com a participação de autoridades de 147 países. O custo para a realização do evento é mínimo se comparado aos resultados. Não existe lógica matemática em relação ao benefício da arrecadação dos impostos provenientes da venda do tabaco quando se pensa no que se deveria ser gasto para financiar o tratamento das conseqüências do tabaco (para cada real em impostos deveria ser gastos dois para os tratamentos). Na Tailândia, a incidência do tabagismo caiu de 30 % da população, em 1992, para 18% hoje. Isso após 15 anos de proibição total da publicidade. A estratégia inclui três aspectos: aumento das taxas, proibição de anúncios e lugares públicos livres de tabaco.


Considerando-se a população acima de 15 anos, Curitiba é a segunda cidade do Brasil em número de fumantes: 21% da população curitibana fuma; seis em cada dez causas de morte estão relacionadas ao tabagismo. A campeã na prevalência do tabagismo é Porto Alegre, com 25% de fumantes em sua população. No Brasil, a média é de 19% e as estimativas indicam que há cerca de 200 mil mortes por ano relacionadas ao tabagismo.


Tornar ambientes públicos 100% livres do tabaco é uma grande estratégia. A Irlanda foi a primeira a adotar a estratégia e o Uruguai o primeiro país a fazê-lo na América Latina. Medidas como essa poupam vidas, permitem visualizar a melhora na saúde da população exposta e ajudam os fumantes a parar de fumar.



Jonatas Reichert é médico e preside a Comissão de Tabagismo da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia.

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