“A construção da paz começa no coração das pessoas e tem seu fundamento no amor, que tem suas raízes na gestação e na primeira infância, e se transforma em fraternidade e responsabilidade social. A Paz é uma conquista coletiva."

(Zilda Arns)

Na passagem comemorativa do Dia Internacional da Mulher, em 8 de março, o Conselho Regional de Medicina do Paraná presta homenagem a todas Elas, em especial as médicas, abnegadas nas múltiplas missões que abraçam todos os dias, também enquanto esposas, mães, avós, cuidadoras ou protetoras, inspiradas em gestos de amor, solidariedade, coragem e perseverança. E é sob estes valores que rememoramos a passagem do 10º aniversário da morte da médica Zilda Arns Neumann, ocorrida em janeiro de 2010 no Haiti, onde se encontrava em mais uma ação humanitária.

Nascida em Santa Catarina, mas presente desde a infância no Paraná, onde se formou em Medicina pela UFPR e concentrou sua carreira médica como pediatra, a Dra. Zilda Arns (CRM-PR 1081) mereceu as duas principais honrarias concedidas pelo CRM-PR: a Medalha de Lucas – Tributo ao Mérito Médico, em louvor ao seu trabalho social e humanitário, e o Diploma de Mérito Ético-Profissional, ao atingir 50 anos de atividade com histórico exemplar. Fundadora e coordenadora internacional da Pastoral da Criança e reverenciada com inúmeros títulos ou condecorações, ela foi indicada várias vezes ao Prêmio Nobel da Paz, sendo que em 2012 foi eleita a 17ª maior brasileira de todos os tempos. Também hoje é patrona da comenda de Medicina e Responsabilidade Social que o CFM entrega todos os anos.

“Que morte linda!” ‑ Esta foi a exclamação de Dom Paulo Evaristo Arns, o Cardeal da Esperança, ao tomar conhecimento da morte da irmã Zilda no Haiti, país arrasado por terremoto e onde ela se encontrava em missão humanitária naquele fatídico 12 de janeiro de 2010. “A construção da paz começa no coração das pessoas e tem seu fundamento no amor, que tem suas raízes na gestação e na primeira infância, e se transforma em fraternidade e responsabilidade social. A Paz é uma conquista coletiva”. Este é um trecho do último discurso proferido pela médica, poucas horas antes de sua morte.

Haiti como cenário de coragem

Dos ensinamentos da pediatra, fomos em busca de outra médica paranaense para retratar os ensinamentos de “amor, solidariedade, coragem e perseverança” na passagem do Dia Internacional da Mulher. Um ano e meio antes do catastrófico terremoto, a Dra. Carla Maria Clausi (CRM-PR 11.148) estava no mesmo país caribenho, na condição de oficial militar do Exército Brasileiro, como integrante da MINUSTAH - Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti, que teve a presença do Brasil a partir de 2004. Num feito heroico, onde não hesitou em arriscar a própria vida, em meio aos escombros do prédio de uma escola que desabou, conseguiu salvar quatro crianças de idades entre seis e sete anos, num cenário que parecia não haver mais esperança pois já se contabilizava quase uma centena de mortes. Depois de quase sete horas, Murielle, a última das crianças, era retirada de mais de seis metros abaixo dos escombros.

A condecoração que recebeu junto com sua equipe, pelo gesto de destemor em defesa da vida de semelhantes, junta-se a tantas outras que a médica tem em sua galeria, desde que ingressou no Exército, em Curitiba, há 24 anos. Hoje, com patente de Coronel, tem no currículo uma série de conquistas pioneiras para uma mulher dentro da carreira militar, como a de ter sido a primeira a dirigir uma Organização Militar de Saúde e a compor o quadro de instrutores da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército. Além disto, credencia-se para, em poucos anos, ser promovida a General, o que a posicionaria também como a primeira mulher a ascender ao mais elevado posto hierárquico do Exército.

A vida da Dra. Carla é marcada por desafios. Única mulher entre os oito filhos do renomado Professor Doutor Roberto Mario Clausi, um dos pioneiros do intensivismo médico no Brasil (confira aqui um pouco de sua trajetória), foi a que decidiu seguir seus passos na Medicina, formando-se em dezembro de 1987 na UFPR, onde o pai foi também seu mestre. Além disto, pode-se dizer que foi por sua insistência que se garantiu a presença feminina nos campeonatos de Orientação das Forças Armadas, e que nos dias atuais ainda está presente, em competições internacionais. Mais de 20 anos depois de obter autorização para realizar parte dos percursos individuais masculinos, provando o potencial da mulher em cumpri-los dentro da capacitação física do Exército, hoje as corridas de Orientação são o hobby da oficial médica, que também  teve participação relevante na montagem do Hospital de Campanha e no acolhimento da Base Aérea de Anápolis (GO), para os brasileiros resgatados da China, em meio ao surto do Coronavírus.

A foto-montagem de capa desta publicação reúne imagens das Dras. Zilda Arns Neumann (CRM-PR 1081), Carla Maria Clausi (CRM-PR 11.148), Helen Anne Butler Muralha (CRM-PR 224) e Maria Eugênia da Rocha Santos (CRM-PR 24.344) com sua filha médica, Dra. Ana Lea Clementino da Rocha Santos. A Dra. Helen foi a primeira conselheira mulher do CRM-PR e também recebeu as duas principais honrarias, o Diploma de Mérito Ético e a Medalha de Lucas. A Dra. Maria Eugênia, natural de Oeiras, Piauí, recebeu em 2019 o Diploma de Mérito pelos 50 anos anos dedicados à Medicina de forma exemplar.

CONFIRA A ENTREVISTA COM A DRA. CARLA CLAUSI, QUE PODE SER A PRIMEIRA GENERAL DO EXÉRCITO.