01/12/2008
A luta contra a superbactéria
Estudos alertam para o aumento da resistência de um agente responsável por casos graves de infecção hospitalar
Duas pesquisas divulgadas na última semana revelam que algumas bactérias que afetam a saúde humana começam a apresentar
comportamentos que pedem maior vigilância. Um dos estudos, conduzido pela Universidade do Oregon, nos Estados Unidos, e pelo
Instituto de Pesquisa do Hospital Sick Children, no Canadá, informa a existência de um pico de infecções durante os verões.
Assim como os agentes da gripe e dos resfriados se espalham com mais facilidade no inverno, os diversos microorganismos pertencentes
à família das bactérias gram-negativas parecem preferir os dias de calor. Fazem parte desse time micróbios como a Pseudomonas
aeruginosa, a Escherichia coli e a Acinetobacter baumannii. "Eles são causa freqüente de infecções na corrente sanguínea,
urinárias, gastrointestinais, pneumonias, em ferimentos, queimaduras e cortes cirúrgicos", explica o infectologista Jacyr
Pasternak, da Comissão de Controle de Infecções Hospitalares do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo.
A conclusão de que as bactérias gram-negativas se disseminam mais no calor está fundamentada em um estudo que durou
sete anos no Hospital Baltimore. Os dados obtidos indicam que o número de pacientes afetados por essas bactérias pode subir
até 17% a cada dez graus de elevação da temperatura.
Embora as razões do aumento sejam diferentes para cada microorganismo
e não estejam bem estudadas, a variação sazonal passa a ser um dado importante na hora do diagnóstico. O reconhecimento do
vínculo entre as infecções e o calor deve ser alvo de mais estudos para avaliar seu impacto diante das transformações climáticas
globais. Disso espera-se que surjam estratégias de prevenção.
Vigilância ainda mais intensa parece ser necessária sobre a Acinetobacter baumannii. Um trabalho veiculado pela revista
médica The Lancet Infectious Diseases, na edição que acaba de sair, registrou um crescimento nos casos de infecção provocados
por essa bactéria em hospitais americanos. Ela produz contaminações graves e pode levar à morte pacientes com sistema imunológico
comprometido. Ataca especialmente pessoas com suporte ventilatório (entubadas).
"O simples ato de lavar as mãos é uma forma de combater o micróbio"
Apesar de ser velha conhecida dos cientistas, a A.baumannii configura uma ameaça emergente. "Este micróbio está 30%
mais resistente do que era em relação aos antibióticos conhecidos", afirmou à ISTOÉ Matthew Falagas, do Alfa Instituto de
Ciências Biomédicas de Atenas, na Grécia. Um dos autores do trabalho, ele costuma ser contratado por laboratórios farmacêuticos
para falar em congressos sobre o tema.
A bactéria também é mais difícil de ser erradicada com os desinfetantes usados nas enfermarias e UTIs. Pode ser transportada
na pele de pessoas saudáveis e transmitida aos enfermos por causa da má higienização das mãos dos profissionais da saúde.
O relatório de Falagas recomenda aos médicos e enfermeiros higiene rigorosa e muito cuidado com os antibióticos. "Deve-se
dar esses medicamentos pelo menor tempo possível para obter o efeito pretendido, em vez de prolongar o uso.
Outra boa
medida é lavar as mãos entre o atendimento de um paciente e outro, uma prática que apenas 60% dos médicos e enfermeiros adotam",
diz Pasternak.
Conter o avanço das bactérias multirresistentes é um grande desafi o. Na semana passada, um estudo publicado na revista
americana Science deu mais fôlego àqueles que procuram caminhos diferentes para vencer essa guerra.
Pesquisadores ingleses
conseguiram descrever como o organismo do besouro Tenebrio molitor, o popular bicho-da-farinha, destrói esses microorganismos
com facilidade impressionante. Em menos de uma hora, o sistema imunológico desse inseto devorou milhões de Estafilococos aureus
usados na pesquisa. Depois, trocou as armas e fez um novo ataque usando proteínas que mostraram efeito bactericida. Com a
estratégia, eliminou os Estafi lococos que sobreviveram ao primeiro embate, os chamados mais resistentes. Em vários países
já se estuda o desenvolvimento de medicamentos a partir dessa proteína do besouro.
Fonte:Revista IstoÉ