O Conselho Regional de Medicina do Paraná realizou na noite de 15 de setembro (segunda-feira), solenidade em homenagem aos imigrantes japoneses e descendentes pioneiros na Medicina do Paraná. O evento fez parte das comemorações alusivas ao Centenário da Imigração Japonesa ao Brasil e dos 50 anos de fundação do Conselho, ocorrendo no auditório de sua sede em Curitiba - a Casa do Médico. Além das homenagens que alcançaram 10 médicos pioneiros e seus familiares, a cerimônia teve várias atividades artísticas e culturais, com destaque para a abertura da exposição "Arte Nikkei no Centenário da Imigração Japonesa ao Brasil", que ficará aberta à visitação até 24 de outubro no Espaço Cultural CRMPR. São pinturas, esculturas e fotografias de 15 artistas paranaenses de descendência japonesa.

A solenidade foi aberta por volta das 20h, tendo como mestre-de-cerimônia o médico Eduardo Haiashi, filho de japoneses e entusiasta da pesquisa e resgate da memória da comunidade Nikkei no Paraná. Ele fez a saudação aos presentes destacando que o evento é uma forma de reconstruir a história dos pioneiros que seguiram a profissão médica. "Uma história que congrega capítulos de dificuldades e adversidades com perseverança e exemplos legítimos de respeito aos ditames hipocráticos. Os personagens são inúmeros, cada qual com a sua importância na construção da Medicina paranaense e no incentivo ao zelo ético e tecno-humanista da profissão. Assim, a alternativa para restaurar esse caminho foi a de ordem cronológica de imigrantes que se formaram em Medicina no Paraná ou que vieram para atuar em nosso Estado", referiu-se.

Na seqüência, ocorreu a execução do Hino Nacional, com as bandeiras do Brasil e do Japão expostas no palco do auditório e com exibição em telões de imagens dos dois países. Logo depois ocorreu a apresentação de taiko por 12 dos 49 jovens que integram o grupo Wakaba da Associação Cultural e Beneficente Nipo-Brasileira de Curitiba. O taiko (tambor) é considerado o instrumento mais antigo da humanidade. Depois, o mestre-de-cerimônias registrou a presença de várias autoridades prestigiando o evento, incluindo o médico Rui Hara, secretário municipal de Curitiba e que representou o prefeito Carlos Alberto Richa; a vice-cônsul do Japão, Sra. Yuka Iwanami, que representou o Cônsul Geral do Japão no Paraná, Sr. Soichi Sato; e o presidente da Associação Nipo-Brasileira de Curitiba, Yuichi Oshima.

O presidente do Conselho de Medicina, Gerson Zafalon Martins, fez as boas-vindas aos presentes, centrando a sua fala a partir da figura do tsuru (a garça), considerada uma das mais populares e belas dentro do origami. Lembrou o presidente do CRM que a arte surgiu há séculos e sempre admirada por seu valor simbólico, representando a paz, a saúde, a longevidade e a fortuna, motivo pelo qual está sempre presente nas festas de ano novo, casamento, nascimento e nas comemorações festivas em geral. "Diz-se que ao dobrarmos mil tsurus com o pensamento voltado para aquilo que almeja alcançar, os nossos desejos serão realizados, ou se oferecermos o tsuru a uma pessoa doente, estaremos transmitindo-lhe o nosso desejo para o seu completo restabelecimento. Ao dobrar cada figura, a pessoa deposita nela toda fé, esperança, carinho e energia na recuperação desta pessoa, formando uma espécie de corrente com vibrações positivas". E complementou: "Nesta noite que reconstituímos a história dos pioneiros da Medicina no Paraná, trago a imagem do tsuru para desejar a todos vocês vibrações positivas e que todos os nossos desejos se tornem realidade. O Conselho estende a homenagem de hoje a todos os imigrantes e descendentes que deram a sua contribuição nas áreas médica, docência e pesquisa e, também, ao próprio desenvolvimento do Estado. Esta iniciativa faz parte dos festejos do Jubileu de Ouro do Conselho e do Dia do Médico, a ser comemorado em 18 de outubro."

O médico Rui Hara falou em nome da comunidade nipônica e dos homenageados, destacando que a cerimônia era motivo de júbilo por reverenciar a longa jornada marcada por muito sofrimento e dedicação, mas que o povo japonês é de eterna gratidão pelo acolhimento pelos brasileiros. Referiu-se ao processo de miscigenação marcante no Paraná e o elevado percentual de médicos descendentes hoje presente nos registros do Conselho de Medicina e usou como exemplo para referir-se a "um país do futuro", onde todas as etnias possam viver em paz e harmonia".

Logo em seguida, houve a apresentação de vídeo produzido pelo Dr. Eduardo Hayashi sobre os primeiros imigrantes médicos no Paraná e que fora levado em junho ao Congresso Médico do Centenário Brasil-Japão, realizado em São Paulo em iniciativa da Associação Médica Brasileira. O material tem em destaque referências ao Dr. Paulo Otsuka, o primeiro japonês a se graduar em Medicina na UFPR, em 1940; o Dr. Isami Morita, outro imigrante que continua exercendo a profissão em Paranaguá, hoje aos 83 anos; e passagens com dados históricos até chegar à formatura da filha dele (Dr. Eduardo) em Medicina e o festejo comemorativo do 88.º aniversário de seu pai, este ano.


Homenageados

Na homenagem in memoriam ao Dr. Paulo Otsuka (nascido Yasaku Otsuka , em 27 de fevereiro de 1906 em Hakui, Ishikawa)), a viúva, Sra. Sizu Hasegawa Otsuka, recebeu das mãos de seu filho médico, Dr. Nelson Otsuka, a placa de "Honra ao Mérito" como primeiro imigrante japonês a se formar médico. Paulo exerceu a profissão em Bandeirantes, interior do Estado, onde faleceu há 22 anos. Ele teve dois filhos médicos (Paulo e Célia) e ajudou grande número de descendentes a seguir a carreira.

O segundo dos 10 homenageados foi o Dr. Isami Morita, que não pode se deslocar do litoral do Estado devido a problema de saúde. O Dr. Rui Hara recebeu da conselheira Marília Cristina Milano Campos a placa que reverencia o Dr. Morita como um dos primeiros imigrantes a se formar médico e um dos primeiros também a receber o Diploma de Mérito Ético-Profissional do Conselho de Medicina, pelos 50 anos de atividade de forma exemplar.

Outro imigrante que integra a relação dos primeiros a se formar em Medicina, o pediatra Toshio Igarashi, também não pôde comparecer à solenidade. Ele foi representado pelo sobrinho Adélcio Volpi, que recebeu a comenda das mãos do presidente do CRMPR, Gerson Zafalon Martins. O representante do homenageado entregou na ocasião ao presidente dois exemplares do livro "História da Imigração Japonesa no Paraná", um editado no idioma japonês e outro no português. A obra é de autoria do Dr. Toshio, que foi um dos primeiros japoneses a se inscrever no CRM.

Imigrante japonês também pioneiro na formação, na atuação docente e no empreendedorismo hospitalar, o Dr. Saburo Sugisawa também foi homenageado. Ele contribuiu para que 22 familiares seguissem a profissão de médico, incluindo três filhos - Drs. Mari Sugisawa Kay, Dr. Mario Sugisawa e Dra. Sandra Sugisawa Miyazaki. Dois dos filhos estiveram presentes à cerimônia e entregaram a placa ao Dr. Saburo.
A Dra. Yakiho Matsuura Sato foi homenageada como a primeira descendente a se formar em Medicina no Paraná, em 1952, tendo se casado com colega de faculdade e ido morar inicialmente no interior de São Paulo e, em seguida, para o Norte do Paraná. Com o marido cumprindo mandato parlamentar, ela passou a residir na Capital, retornando a Londrina - onde reside atualmente com uma filha - após ficar viúva. A Dra. Yakiho, 86 anos, recebeu a placa alusiva das mãos das netas médicas Daniela Sato Hasegawa Tanaka e Juliana Sato Hasegawa.

Um dos primeiros descendentes a receber o Diploma de Mérito Ético-Profissional do CRMPR, o Dr. Frank Ogatta foi também homenageado, recebendo a placa de m"honra" das mãos dos filhos médicos, a Dra. Evelin Massae Ogatta Muraguchi, coordenadora do curso de Medicina da UEL, e o cirurgião plástico Evaldo Yoshimoto Ogatta. O Dr. Frank formou-se no Rio, antiga Capital Federal, mudando para Uraí, Norte do Paraná, em 1957. Quatro anos depois radicou-se em Londrina, onde está até hoje. Aposentado, dedica parte do seu tempo para trabalhos voluntários na área de Medicina.
Cunhado do Dr. Frank, o Dr. Minoru Ikeda foi homenageado na seqüência como descendente pioneiro na atuação docente da Medicina. Ele recebeu a placa das mãos da conselheira e corregedora Raquele Rotta Burkiewicz. O Dr. Sérgio Ossamu Ioshii, presidente da Unimed Curitiba, representou o Dr. Akira Yamasita, homenageado por ser também um dos primeiros descendentes a receber o Diploma de Mérito Ético-Profissional. A entrega foi feita pela conselheira Roseni Teresinha Florêncio.

O Dr. Noboro Miasaki foi homenageado por ser um dos primeiros nisseis a concluir pós-graduação no Paraná. Ele recebeu a placa das mãos da filha médica, a Dra. Fabíola Yukiko Miasaki. A artista plástica Renata Otsuka, com obras presentes na mostra de "Arte Nikkei" no Conselho, e o filho Matheus, entregaram ao pai e avô Dr. Nelson Otsuka a placa em homenagem por ser filho do primeiro médico e por ser um dos primeiros descendentes no ensino médico paranaense.

A apresentação da dança típica japonesa Edo no Shiki, por integrantes do grupo folclórico da Associação Cultural e Beneficente Nipo-Brasileira de Curitiba, encerrou as atividades no auditório sob intensos aplausos. Em seguida, o mestre-de-cerimônias convidou os presentes a visitar a mostra "Arte Nikkei no Centenário da Imigração Japonesa ao Brasil", no Espaço Cultural CRMPR, destacando que "a Casa do Médico está aberta à sociedade".