16/10/2007

A homenagem aos médicos

"A vida é curta, a arte é longa, a oportunidade é fugaz, a experiência falaciosa e o julgamento difícil."


Hipócrates (460 a 357 a.C)






Neste 18 de outubro comemoramos o Dia do Médico, sob inspiração da data que reverencia o seu patrono, São Lucas. Em que pesem as condições de trabalho muitas vezes desfavoráveis, seja no sistema público ou suplementar, e distorções no aparelho formador que ainda lança no mercado profissionais sem o preparo que a atividade exige, prevalece o entendimento de que os preceitos hipocráticos continuam presentes no seio médico. Não por acaso, sob amparo de conceituados organismos de pesquisa, o médico representa a instituição de maior confiabilidade no País, com índice médio de 85% e muito a frente de outras carreiras.


Como tem sido tradição, nesta data o CRM-PR presta homenagem aos grandes expoentes da Medicina, que se destacam ou destacaram como exemplos de conduta ética e espírito humanitário. A deferência visa alcançar, ao mesmo tempo, todos aqueles que, como preceitua o Código de Ética Médica, tem na saúde do ser humano o alvo de toda a sua atenção e que, para isso, deve agir com o máximo zelo e o melhor de sua capacidade profissional. Assim, como profissão a serviço da saúde do ser humano e da coletividade, a Medicina sempre estará propiciando reflexões sobre a falibilidade, daí o ensinamento contido em adágio francês do século 17: "Curar às vezes, aliviar freqüentemente e consolar sempre".


A relação médico-paciente é preponderante para o melhor resultado do atendimento. É preciso transparência para que os extremos entre um tratamento exitoso ou malsucedido possam ter como baliza o respeito mútuo, discernindo o "Homem" do "Deus". É dever do médico zelar e trabalhar pelo perfeito desempenho ético da Medicina e pelo prestígio e bom conceito da profissão. A confiança existente entre o médico e o paciente pode ser prejudicada pelo descuido crônico que acomete a saúde pública no País, onde os profissionais da área se vêem muitas vezes reféns de um sistema de gestão inadequado, que remunera mal, conduz à queda de qualidade dos serviços e limita o acesso da população à assistência, frustrando assim o seu direito constitucional.


Uma das maiores políticas de Estado e, com certeza uma das principais conquistas da sociedade brasileira, o Sistema Único de Saúde cresceu e amadureceu nestes 20 anos. Mas, com certeza, está longe de ser um projeto acabado, de direitos e obrigações claros entre os seus atores, os gestores, prestadores e usuários de serviços. Sequer as fontes de custeio estão definidas, sendo um dos entraves a demora na regulamentação da Emenda Constitucional 29, cujo projeto se arrasta há anos no Congresso, permitindo a descaracterização do que são gastos de saúde. Desde a edição do Plano Real, em 1994, a variação inflacionária rompeu a barreira dos 450%. No período, graças a um reajuste emergencial recém-concedido, as perdas puderam ser amenizadas só em cerca de ¼ do total e em parte dos procedimentos.


Hoje, o médico no sistema público, ainda ansiando por um plano de carreira, recebe pouco mais de R$ 2 por uma consulta. Ou R$ 10 se for de especialidade. Os médicos paranaenses realizaram no período de agosto do ano passado até julho deste ano mais de 738 mil internações hospitalares, ou quase 61,5 mil por mês, pelo Sistema Único de Saúde. Contribuíram, desta maneira, para resolver os problemas que os pacientes apresentaram. E não para ganhar dinheiro, pois em termos de valores recebidos, a título de honorários médicos, a média por internamento é de R$ 91,90, não importando aí quantos os profissionais envolvidos e o período do tratamento. Tais números dão a dimensão do papel do médico nesse contexto de atenção à saúde. Recente pesquisa do Conselho Federal de Medicina indica que a grande maioria dos médicos tem de dois a quatro empregos e que, entre eles, mais de 60% cumprem jornada semanal de 41 a mais de 100 horas. Além do reflexo óbvio na qualidade da assistência, a evidente a implicação dessa "pressão" na vida pessoal do médico. Ambientes de trabalho estressantes e pouco alentadores, dificultando que o médico cuide de sua saúde adequadamente. Mesmo com tantos transtornos, a mesma pesquisa do CFM ressalta que o médico ainda não se distanciou de seus maiores valores, como honestidade (destacada por pesquisados 97,3%), afetividade (88,2%), saúde (86,7%) e justiça (80,8%), mesmo que somente 51,7% deles tenham se declarado satisfeitos com a vida que levam.


No Paraná temos hoje cerca de 16,5 mil médicos em atividade, praticamente a metade concentrada em Curitiba e Região Metropolitana. A eles, juntamente com todos os demais que ajudaram a construir a história da Medicina paranaense, a justa homenagem e que sejam guiados pelos ensinamentos sempre atuais de Hipócrates. Afinal, a Medicina deve ser praticada com a intenção de fraternidade, com sentimento de caridade e a disposição de solidariedade. Ela deve ser guiada pelo conhecimento e inspirada pelo amor.


Gerson Zafalon Martins é presidente do Conselho Regional de Medicina do Paraná e vice-presidente do CFM

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