18/10/2013
Maurício Marcondes Ribas
O Dia do Médico é comemorado hoje. Como é tradição há quase três décadas, o CRM-PR homenageia solenemente um seleto grupo de expoentes éticos da medicina, com seus 50 anos de atividades cumpridas de forma exemplar. Um gesto simbólico que visa estender a reverência a todos os médicos que cumprem sua missão hipocrática e, mais que isso, propagar o compromisso de zelo ético entre aqueles que se iniciam ou pretendem seguir a carreira.
Meio século de trabalho íntegro para receber o Diploma de Mérito Ético-Profissional e a Estatueta da Medicina em reconhecimento público do órgão de classe? Assim é a medicina. Profissão que exige dedicação plena e que impõe desgaste físico pelas jornadas extenuantes de trabalho e atualização profissional, além de emocional, no compartilhamento do sofrimento alheio e as tantas agruras do dia a dia. Sem contar as renúncias ao convívio familiar, ao lazer... Porém, a atividade é prazerosa e envolvente, com seu sucesso residindo na gratidão silenciosa, na convicção de ter feito o melhor dentro das circunstâncias, de ter somado esperança. Por isso, a longevidade vira privilégio.
Medicina é uma profissão de fé. Na ciência e na arte, que se estreitam no tratar, no curar, no confortar. Essa essência, por certo, ajuda a posicioná-la entre as instituições de maior credibilidade no meio social, mesmo sob o efeito corrosivo do descaso com que a saúde é tratada pelos gestores. Não por acaso, três em cada quatro brasileiros veem nesse setor a maior deficiência pública. O atual governo fez seu jogo político com o programa Mais Médicos, mas pouco ou nada faz para melhorar de fato a assistência e os indicadores de saúde, como oferecer condições condignas de trabalho para a fixação do médico nos vazios assistenciais, o que se vislumbra com um plano de carreira no SUS.
A falta de investimentos em infraestrutura é outro problema crônico na saúde. Nos últimos 12 anos foram autorizados R$ 67 bilhões nos orçamentos, mas só foram aplicados R$ 27,5 bilhões. No período, a Defesa gastou R$ 56,2 bilhões. O comparativo vale para atestar a contradição de prioridades, o que levou à desativação de 13 mil leitos hospitalares somente de 2000 para cá. Comemoramos os 25 anos da Constituição, que reza a saúde como um direito cidadão, num momento em que o setor público responde somente por 45% das despesas integrais. A sociedade, já acossada por impostos acachapantes, ainda desembolsa o restante da conta.
Temos no Paraná 11 milhões de habitantes e 20,9 mil médicos em plena atividade. A cada mês, são realizadas aproximadamente 100 mil internações, 65% delas no sistema público, que, no mesmo período, tem uma produção ambulatorial de 16,6 milhões de procedimentos. Destes, 4,5 milhões são de média complexidade e outros 4,1 milhões, de alta complexidade, incluindo 9 mil transplantes. A participação do médico é marcante e imprescindível nesse cenário, que tem valores ainda mais vultosos se considerada a demanda dos planos de saúde. O CRM-PR, ao exercer o seu papel de fiscalização do exercício médico em defesa da sociedade, instaura em média 50 sindicâncias mensais contra profissionais, a maioria decorrente de conflitos de comunicação entre profissional e paciente.
Na comparação dos números, temos a asseverar que nossos médicos são, via de regra, éticos, abnegados e conscientes de suas responsabilidades. Portanto, mais que reverenciá-los, é merecido que comemorem com a sociedade e, com ela, continuem a lutar pelos princípios que regem a ética médica e os direitos de cidadania, incluindo acesso à saúde de qualidade.
Maurício Marcondes Ribas é presidente do Conselho Regional de Medicina do Paraná.