17/06/2011
A falsa polêmica dos inibidores de apetite
Desde o início de 2011, um tema controverso tem ocupado na imprensa páginas e páginas das editorias de saúde e medicina. Trata-se
da possibilidade de a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proibir no Brasil a comercialização e o uso dos inibidores
de apetite a base de sibutramina, de anfetamina e derivados.
A discussão tem como ponto de partida uma falsa polêmica. Dizer que tais fármacos possuem efeitos colaterais é algo que
os mais antigos classificariam de "chover no molhado". Até porque todos os medicamentos, sem exceção, os têm, em maior ou
menos escala.
Antes de acirrar qualquer debate, portanto, é essencial analisar a questão do ponto de vista da saúde pública. Os inibidores
de apetite são importantes no combate à obesidade, hoje uma das principais causas de diabetes, câncer e hipertensão arterial,
entre outras enfermidades.
Proibi-los certamente só agravará uma situação já preocupante. Em nosso país, atualmente, mais da metade da população
está acima do peso. O número de obesos cresce a cada dia, reproduzindo, aliás, um mal que é mundial.
Claro que não defendemos a utilização indiscriminada, pois, em medicina, a permissividade é inaceitável. Dessa forma,
é imperioso que sejam estabelecidos critérios rigorosos de controle. A prescrição deve ser feita apenas do receituário amarelo,
retirado nas Secretarias da Saúde. Também é necessária forte fiscalização da Vigilância Sanitária sobre a prescrição destes,
para saber como e com quais finalidades estão sendo ministrados.
Por fim, um dos focos da controvérsia deve ser colocado no seu devido lugar. A prescrição médica envolve ciência e arte.
Só ciência e só arte não resolvem. Para bem fazê-la, necessitamos de médicos competentes e bem formados, mas esses não estão
sobrando no mercado.
Um médico para receitar fármacos assume um compromisso não apenas com a prescrição realizada no momento da consulta, mas
também com as suas possíveis complicações e com o dever de saber identificá-las e tratá-las. O grande problema é que muitos
que prescrevem não têm a qualificação adequada. Pior, sentem-se na obrigação de fazer o indivíduo emagrecer a qualquer custo,
sem nem ter o diagnóstico da causa da obesidade.
Com rigor na formação dos profissionais de medicina, controle na venda e fiscalização sobre abusos, resolveremos o problema,
ou boa parte dele. Resta-nos, assim, somente adotar um remédio que sempre faz bem: o bom senso.
Artigo escrito por Antonio Carlos Lopes, presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica