02/04/2013

A Ética Médica e o anel de Gyges

João Carlos Simões

"Chamamos de Ética o conjunto de coisas que as pessoas fazem quando todos estão olhando. O conjunto de coisas que as pessoas fazem quando ninguém está olhando chamamos de Caráter." (Oscar Wilde)

O ato médico nunca foi tão deformado como agora.

E sendo assim, cada vez mais o estudante de medicina e o profissional médico precisa de uma reflexão crítica sobre a ética na Medicina.

O Cremesp divulgou no ano passado que, em 10 anos, aumentou em 302% a quantidade de processos ético-profissionais em andamento, a partir de denúncias contra médicos, relacionados à má prática, erro médico ou diversas infrações ao Código de Ética Médica.

Isto sem falar no aumento incrível de processos cíveis que prenunciam pagamento para reparar o dano sofrido pelos pacientes.

O anel de Gyges é uma lenda que integra A República de Platão.

O personagem dessa história, um pastor no reino da Lídia (atual Turquia) chamado Gyges, encontra por acaso uma caverna, onde jaz um cadáver, que usava um anel. Quando Gyges enfia o anel no próprio dedo, descobre que esse o torna invisível.

Sem ninguém para monitorar seu comportamento, Gyges passa a praticar más ações - seduz a rainha, mata o rei, se apossa do trono e assim por diante.

Essa história levanta uma indagação moral: algum homem seria capaz de resistir à tentação do mal se soubesse que seus atos não seriam testemunhados?

Platão supõe que, o que impede as pessoas de serem amorais, ou não éticas, não é algo interno, mas externo, como leis, proibições, julgamentos alheios e outros dogmas.

E continua, "não se é justo por uma escolha, mas por imposição, visto que não vemos a justiça como um bem individual, pois sempre que julgamos poder ser injustos, não deixamos de o ser".

O mal comportamento ético de alguns profisionais acabam atingindo o arquético do médico ideal. Destroem o prestígio da medicina.

Porque sempre existirá sempre alguém olhando para você e para o que você está falando ou fazendo. Existirá sempre alguém percebendo a a sua postura, atitude, habilidades, voz e ato. E você nunca saberá de que maneira essa pessoa - paciente ou acompanhante - estará olhando e julgando você.

Assim é muito importante o que você faz.

Mas se tudo o que você fizer, e registrar escrevendo o que fizer, for dentro dos preceitos éticos, pode até denunciá-lo, jamais conseguirão lhe condenar.

Artigo escrito por João Carlos Simões, professor titular de Oncologia do Curso de Medicina da FEPAR.

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