14/04/2009

92% dos hospitais possuem falhas em controle de infecção


Levantamento do Cremesp e do Ministério Público de SP encontrou problemas em 146 de 158 instituições paulistas. Relatório não discrimina as deficiências em cada centro, que vão desde ausência de lavatórios até a inexistência de análises microbiológicas


Um levantamento realizado em 158 hospitais do Estado de São Paulo pelo Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo) e pelo Ministério Público do Estado mostra que há falhas no controle da infecção hospitalar em 92% das instituições.

A avaliação ocorreu de outubro de 2007 a janeiro de 2008. Nesse período, os programas de controle de infecção não atendiam a pelo menos um dos itens obrigatórios, como existência de lavatórios com sabão e toalha de papel em áreas críticas, de laboratórios de microbiologia (para analisar os micro-organismos responsáveis pelas infecções) e a estrutura do controle de infecção.

Nesses índices, foram computadas instituições que não atenderam à maioria dos itens críticos para controle de infecção e hospitais que tiveram problemas menores, como falta de reunião periódica entre membros da comissão. Sete hospitais não dispunham de nenhum dos itens. O Ministério Público não discriminou quais foram os problemas encontrados em cada instituição.

Foram avaliados 65 hospitais públicos e 93 hospitais privados da capital, Grande São Paulo e do interior.
Segundo Fernando Galvanese, médico-fiscal do Cremesp, a amostra é qualitativa e reflete a realidade de todo o Estado. "A infecção hospitalar não é um fenômeno que possa ser erradicado. Mas um serviço bem organizado conseguiria reduzir as taxas de infecção em até um terço."

Quase metade dos hospitais visitados não dispunha de um programa de controle de infecção hospitalar formal. Para Lycia Mimica, professora da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, um programa de controle deve contemplar itens básicos, mas nem sempre é acessível a hospitais com recursos limitados. "Hospitais com menos recursos não costumam atender às orientações da vigilância. A exigência é grande, mas é de grau básico", diz.

O infectologista Artur Timerman, dos hospitais Albert Einstein, Heliópolis e Edmundo Vasconcellos, concorda. "Há hospitais que nem têm comissão de controle hospitalar ativa. Não cabe pensar que não haja uma comissão de controle hospitalar". Dos hospitais avaliados, 7,6% não tinham comissão e 11,4% não apresentavam comissão formalizada.



Riscos

Para Mimica, os problemas relacionados à infecção hospitalar têm aumentado em razão do despreparo dos profissionais. Outro risco é o desenvolvimento de bactérias multirresistentes por causa do uso indiscriminado de antibióticos e da falta de análise microbiológica das infecções, situações que devem ser monitoradas pela comissão de controle.

"Sem uma comissão organizada, você não sabe quais são as bactérias prevalentes, e é muito importante falar que a infecção hospitalar pode mudar de uma rua para outra, com perfil e sensibilidade totalmente diferente", afirma Timerman.

O problema de um hospital específico ainda pode refletir em outras instituições que façam um bom controle, uma vez que pacientes transferidos de outros hospitais podem carregar consigo bactérias multirresistentes e favorecer infecção de outros pacientes.



Hospitais

O Ministério Público divulgou uma lista parcial de hospitais que apresentaram problemas durante a inspeção, sem, no entanto, discriminar as deficiências. Na cidade de São Paulo, o ministério listou cinco hospitais municipais, seis privados e seis estaduais.

Entre os privados, há o hospital Oswaldo Cruz, que ontem manifestou surpresa sobre o levantamento. "A instituição verificará, junto a esses órgãos [Cremesp e Ministério Público], os critérios utilizados para essa avaliação e tomará as devidas providências", diz em nota.
Entre os hospitais públicos, foram citados o Pérola Byington (estadual) e o Jabaquara (municipal). As secretarias municipal e estadual de Saúde informaram que desconheciam o relatório.


Fonte: Folha de São Paulo



Clique aqui e para consultar a íntegra do relatório.

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