05/06/2007
30 anos de residência médica
Unanimemente reconhecida como a melhor ferramenta de treinamento e formação de médicos especialistas, a residência
médica está completando 30 anos. Há ótimos motivos para comemorar.
Especialmente porque, no último triênio, foram registrados
avanços importantes como a valorização da preceptoria e dos preceptores, além da criação de mecanismos para impedir a utilização
do residente mão-de-obra barata, a adequação da duração dos vários programas das especialidades, assim como a criação de programas
em novas áreas, como a Medicina do Esporte.
Resta, porém, um longo caminho a trilhar. Hoje, quando falamos de medicina e saúde, o principal problema do
país é que as escolas médicas estão muito ruins. Existe um número excessivo de escolas e em boa parte delas os professores
deveriam estar aprendendo, e não ensinando. Contudo, é fundamental registrar que a residência não é remédio para esse mal.
Seu objetivo é formar especialistas e não assumir o papel das faculdades no processo de graduação.
Na Comissão Nacional de Residência Médica, trabalha-se com persistência e competência para implantar uma visão
humanista a esse segmento, destronando o enfoque essencialmente tecnicista que prioriza exclusivamente aspectos tecnológicos
da Medicina. Lidamos com pessoas, sejam elas médicos ou pacientes, portanto, esse é o componente mais relevante a considerar
a cada decisão.
Um exemplo: não podemos induzir os jovens médicos a escolher essa ou aquela especialidade. O certo é atuar
no sentido de criar oportunidades e estimular, honestamente, a formação de especialistas em várias regiões do País, de forma
a fixar os profissionais de Medicina nos locais carentes destes médicos.
Atualmente, ainda falta estrutura para manter programas de residência em vários locais do País. Faltam equipamentos
e, fundamentalmente, quem ensine. Realmente, o pior é a falta de médicos competentes para atuar como preceptores. Sem o preceptor
experiente não há programa de residência eficiente. É por isso, aliás, que os estudantes procuram os grandes centros. É por
isso também que precisamos lutar muito pela valorização do preceptor, pois sem ele não há residência médica.
É necessário que se entenda que o ensino médico não é apenas um repasse de conhecimentos. O professor, o preceptor,
precisa ser qualificado e estar ao lado de quem quer aprender, porque é a atitude do profissional experiente, sua relação
com o paciente, que forma um médico mais humano e capaz de um diagnóstico correto.
De nada adiantam os recursos tecnológicos avançados sem a presença de um médico que ouça o paciente e saiba
identificar a doença. Ao contrário, um médico bem formado resolve a maioria dos problemas sem a tecnologia avançada. Seguindo
essa lógica, o residente deve saber tomar decisões, mas sempre sob a supervisão do preceptor, que precisa marcar presença,
que deve ser a referência, o verdadeiro mestre, aquele que prepara seu pupilo para um vôo preciso.
Justamente porque só se aprende Medicina com o testemunho da presença, publicamos, em meados de 2005, a resolução
que criou o intercâmbio interinstitucional e o estágio voluntário em regiões de difícil acesso. O primeiro permite que um
jovem médico de regiões distantes ou fronteiriças possa fazer parte de sua residência numa instituição local e parte numa
instituição mais tradicional, nos grandes centros, possibilitando a melhoria progressiva dos programas de residência dessas
localidades.
Com o estágio voluntário, o médico pode passar de 30 a 60 dias prestando serviços em regiões carentes, para
ficar sensibilizado em relação aos problemas sociais. Achamos que falta essa visão social ao médico formado e avaliamos que
esse estágio trará uma influência especialmente interessante para suas carreiras.
Na comemoração de seus 30 anos, a residência médica deve persistir nessa linha. Humanização, responsabilidade
social e compromisso com os pacientes são os pontos que têm de nortear sempre a ação de todos os médicos e especialistas.
Dr. Antonio Carlos Lopes é secretário executivo da Comissão Nacional de Residência Médica do Ministério da Educação
e professor titular da Disciplina de Clínica Médica da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp)