Brasil
Pesquisas realizadas nos anos 2011 e 2012 revelam como é a distribuição de médicos no país.
O Brasil é um país marcado pela desigualdade no que se refere ao acesso à assistência médica.
Ausência de políticas públicas nas áreas de ensino e trabalho, além de poucos investimentos,
contribuem para que a população médica, apesar de apresentar uma curva constante de crescimento,
permaneça mal distribuída pelo território nacional e com baixa adesão ao trabalho na rede do Sistema
Único de Saúde (SUS), especialmente nas áreas de difícil provimento.
Os dados são
do segundo volume da pesquisa Demografia Médica, feita em conjunto pelo Conselho de Medicina do Estado de São
Paulo e pelo Conselho Federal de Medicina e divulgado em fevereiro de 2013.
Quem são e onde estão
os médicos no Brasil? A presença de médicos no SUS é suficiente? A abertura de cursos de medicina
no interior contribui para a fixação em locais onde faltam médicos? Onde atuam os médicos estrangeiros
e formados no exterior? Essas e outras questões são respondidas pela pesquisa.
Demografia Médica no Brasil - Volume 2
Demografia Médica no Brasil - Volume 1
Sobre o estudo
O estudo Demografia Médica no Brasil -
Volume 2 demonstrou que não se confirma a expectativa de que as escolas médicas sejam polos em torno dos
quais os médicos ali graduados exercerão a profissão. Após a conquista do diploma, os grandes
centros são a opção preferencial para instalação dos médicos e exercem mais atração
que as cidades onde eles se formaram ou nasceram.
Para chegar a esta conclusão, foi acompanhada, ao longo de
três décadas, a migração de 225.024 médicos. Foram considerados o local de nascimento, o
local de graduação e o primeiro registro em Conselho Regional de Medicina. Também foram analisados os
cancelamentos de registros, por motivo de transferência do médico de um estado a outro. A análise foi
de 1980 a 2009, período em que uma centena de novas escolas médicas foram criadas no país.
Do
universo pesquisado, 107.114 médicos se graduaram em local diferente daquele onde nasceu. Nesse grupo, 39.390 (36,8%)
retornaram ao município de onde saíram. As capitais dos estados de São Paulo e do Rio de Janeiro, juntas,
são responsáveis por cerca de um terço desse percentual de retorno.
Ainda dentro do grupo de 107.114
médicos que se graduou em local diferente daquele onde nasceu, 27.106 (25,3%) ficaram na localidade onde se formaram.
Também nestes casos, são os centros urbanos que exercem atração sobre os egressos das escolas
médicas. Cerca de 60% dos que ficaram onde se graduaram, permaneceram em sete capitais (Rio de Janeiro, São
Paulo, Porto Alegre, Recife, Belo Horizonte, Salvador e Curitiba). Os outros 40.618 (37,9%) que se graduaram em local diferente
de onde nasceu, estão hoje exercendo sua atividade ou residindo em outro lugar, diferente daquele onde nasceu e diferente
daquele onde se graduou.
O perfil da migração de médicos é praticamente o mesmo em cada
década analisada, mesmo nos anos após a abertura de muitas escolas no interior dos estados. O que se vê,
no entanto, são pontos de concentração nas capitais e nas regiões mais desenvolvidas. Entre 1980
e 1989, por exemplo, 57% dos profissionais formados atuavam nas capitais e os outros 43% no interior dos estados. Na década
seguinte, o percentual de médicos nas capitais se manteve o mesmo e, entre 2000 e 2009, subiu para 59,4%.
De
acordo com o CFM e Cremesp, o persistente fluxo de médicos em direção aos mesmos lugares pode agravar
desigualdades e gerar consequências indesejadas ao sistema de saúde brasileiro, o que não se resolverá
apenas com o aumento ou a interiorização da abertura de novas escolas. Além disso, o fluxo constatado
pode ser um indicador de que a simples abertura de mais escolas e vagas não basta para reduzir as desigualdades regionais
em locais de baixa concentração de médicos. Muitas das novas escolas se transformaram em “repúblicas
de estudantes”, com a maioria de seus graduandos migrando em direção a outros centros, assim que se forma”,
aponta o estudo.
Médicos formados no exterior também preferem os grandes centros
O
estudo mostra que São Paulo é a cidade que concentra o maior número de médicos formados no exterior.
Do total de 6.980 profissionais com estas características e que possuem CRM, 16,30% têm endereço de domicílio
ou de trabalho na Capital. Outros 836 estão no interior paulista. Juntamente com Rio de Janeiro e Minas Gerais, no
Estado de São Paulo, se concentram 42,22% dos egressos de outros países.
Os números mostram ainda
que, da mesma forma que os médicos brasileiros em geral, os profissionais diplomados no exterior preferem trabalhar
e residir nos grandes centros. Poucas exceções quebram essa regra. É o caso da Bahia, onde há
registro de 467 profissionais formados em outros países, sendo que 75% deles residem fora de Salvador, embora o estudo
não revele se estes profissionais estão, de fato, em municípios mais remotos do Estado ou em distritos
que envolvem a capital.
Dentre os portadores de diplomas estrangeiros, quase 65% são brasileiros que saíram
para estudar fora e retornaram. Dentre os estrangeiros, se destacam os bolivianos no país, com 880 registros.
Os demais são originários de 52 outras nações diferentes: 6% do Peru, 4% da Colômbia, 3%
de Cuba, etc. Ressalta-se que neste grupo constam apenas profissionais que se submeteram às exigências legais,
ou seja, passaram por exame para revalidar os diplomas e se inscreveram em algum Conselho Regional de Medicina.
O estudo
também analisou o fluxo de entrada no país desses médicos que se formaram no exterior. De 2000 a 2005,
houve um aumento significativo de novas entradas por ano, que passou de 201 para 830. Desde então, tem sido registrada
queda constante neste número. Em 2011, foram 238 registros de médicos formados em outros países e, até
outubro de 2012, outros 121. A redução de entrada coincide com a definição de novas regras de
revalidação e a implantação do Exame Nacional de Revalidação de Diplomas Médicos
(Revalida), defendido pelas entidades médicas.
Do conjunto de graduados no exterior, a maioria é formada
por homens – 66,3% contra 33,7% de mulheres. A média de idade dos profissionais diplomados no exterior é
de 43 anos. São quase três anos mais novos que o conjunto de médicos do país. Os homens formados
lá fora têm 46 anos em média e as mulheres, 41 anos, contra 49,78 e 42,36 anos para o total dos profissionais
em atividade no país, respectivamente.
Médicos no SUS
Embora cerca de 48,66 milhões
de brasileiros tenham acesso a planos de assistência médico-hospitalar (ANS, 2012), o SUS atende constitucionalmente
toda a população, inclusive nas ações de promoção, vigilância, assistência
farmacêutica, urgência, emergência e alta complexidade.
Nos dados de médicos do SUS, o estudo
Demografia Médica faz ressalvas: há falhas na alimentação das bases e médicos em regimes
de plantão e terceirizados podem não constar do cadastro nacional, subestimando o número de profissionais
que trabalham no SUS. Além disso, a unidade “médico do SUS” é complexa, pois existem diferenciais
de especialidade, produtividade, idade, gênero, número de vínculos e carga horária dedicada ao
serviço.
Pelos registros do CNES, há razão é de 1,11 médico que atende SUS por 1.000
habitantes, contra uma razão de 2 por 1.000 para o conjunto dos profissionais registrados. “Para um sistema de
saúde público e universal, mesmo diante das limitações das bases de dados do CNES, pode-se dizer
que é insuficiente a presença de médicos no SUS”, aponta o levantamento.
A reversão
desse quadro, no entendimento dos Conselhos de Medicina, passa pela adoção urgente de medidas estruturantes
na assistência em saúde. Entre elas, constam a necessidade de adoção de políticas de valorização
dos profissionais de saúde, o fim da precarização dos vínculos empregatícios e a implementação
de planos de carreira, cargos e vencimentos. Além delas, as entidades defendem o aumento do investimento público
no setor e a criação de uma infraestrutura que garanta instalações, equipamentos e insumos para
o exercício da Medicina.
Fonte: CREMESP
Demografia Médica no Brasil - Volume 2
Demografia Médica no Brasil - Volume 1